É impressionante nossa capacidade para estragar as coisas. Tem dias que acordamos com a pá virada e damos um jeito de virar todo mundo do avesso. É muito difícil ficar perto de alguém que, invariavelmente, reclama: a comida tá ruim, aqui tem mato demais, porque abriram essa janela, não percebem o frio, porque não abrem a janela, tá quente demais, esse quadro não deveria estar aqui, esse sofá não combina com o espaço, essa cadeira está fora do lugar, sua roupa está amassada, não gostei desse restaurante, não gosto de café com açúcar, não gosto de café sem açúcar, não gosto de café, não gosto do cheiro do café. E se você questionar algo a ladainha aumenta indefinidamente. Parece que o sujeito engoliu um rádio e faz do encontro um podcast sobre o assunto, num monólogo repetitivo e sem sentido. Nem mesmo um dia de céu azul consegue aplacar a chatice que de vez em quando nos visita. Sim, porque todos nós, em algum momento, também nos tornamos insuportáveis. E não tem como não se irritar. Até um monge budista sentiria raiva.
Dias complicados
Opinião
Talvez o irritado (irritante) seja você
A maneira com que lidamos com nossos problemas diz de quem somos e sobre o que já aprendemos nesta vida
Adriana Antunes
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