Faça amizade com a mudança. Nada na vida é permanente, muito menos nós. Tempos atrás uma paciente me disse que havia iniciado um processo de remendar roupas velhas. Comprava em brechós e as remendava em casa, depois as doava novamente. Curava as roupas para vestir novos corpos. Um processo de ressignificar as histórias daqueles fios que compunham a trama da peça. A escutava e pensava, sim. É preciso manter o que era possível, refazer na medida do necessário e colocar fios novos quando preciso. Emocionei-me. Eis o permanente ciclo de começo e fim, vida e morte e renascimento. De certo modo somos roupas que vão envelhecendo, esgarçando, rasgando, precisando de remendos ou fios novos para durar o tempo que estamos destinados a durar. O depois pertence ao depois. Por isso, precisamos fazer as pazes com as mudanças hoje. Lembrei de Simone Weil e uma frase que me chega de lembrança, pois existe sempre um prazer em ser quem se é e uma dor infernal, um prazer e uma dor curativa, um prazer e uma dor celeste, e somente nós podemos viver e sentir isso. Cada um a sua maneira. Uns aceitando a mudança. Outros negando. Mas conscientes de que a mudança independe de nossa vontade.
Existir
Opinião
Somos andarilhos sem sombra
Por mais assustador que isso possa parecer, a condição humana acontece justamente no enigma, no indizível , no mistério
Adriana Antunes
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