Amanhã é dia de todas nós, cis e trans. Mulheres jovens e velhas. De todas as cores, corpos e histórias. Penso nas minhas avós, uma teve dez filhos, a outra 16. Nenhuma das duas estudou. As duas trabalhavam muito. Se dividiam entre plantar batatas, uva, fazer queijo e parir. As duas apanhavam dos maridos. Uma usava a voz para cantar. A outra, enlouqueceu. Uma tinha os olhos azuis, a outra, verdes. As duas tinham cabelo encaracolado e loiro. Uma levou um tiro, a outra foi internada num sanatório. A história de cada uma delas não é muito diferente da história da sua avó. Provavelmente suas avós também devem ter enfrentado situações dolorosas e, na maioria das vezes, sozinhas. Longe dos pais e sem tempo para fazer amizades, a história das mulheres que pariram nossas mães é recheada de silêncios e fé, talvez única sustentação diante das dores enfrentadas, mas também é feita de apagamento. Ninguém quer relembrar uma história que tenha sido maculada pela violência doméstica. É mais fácil fazer de conta que isso só acontece em outras famílias.
História
Opinião
8 de março
Um dia de reflexão, não de ganhar flores
Adriana Antunes
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