Pais quando têm filhos, semeiam-se. Observo as crianças correndo pelo jardim e penso na coragem da semente-vida que habita cada corpo em desenvolvimento. Uns mais silenciosos, outros agitados, uns experimentando falar, outros que gesticulam feito maestros de um reinado ainda por ser imaginado. Espaço-terra que se constrói aos poucos. Solo germinado pelos dias. No entanto, assim como fazemos com as sementes de flores, às vezes, fazemos com as crianças. Talvez, pudéssemos ir mais devagar. Passos menores para dar tempo de olhar no olho, sorrir e apontar para o céu e ver o voo do pássaro. Passo-pé-de-formiga-viajandeira que vê o chão e seus mistérios. A minhoca, a folha que secou pela passagem do tempo, o esqueleto de algum inseto que cresceu e trocou de corpo. Quem cultiva um jardim, sabe do que falo. Cada flor desabrocha em seu tempo, mesmo diante de nossa ansiedade, exigência e expectativa. No entanto, desabrocha a seu modo. Me sento diante dos pequenos como me sento diante das centáureas e penso na vulnerabilidade da semente. Pequena, leve e sem experiência de terra. E tudo que ela precisa é de um lugar que a permita ser quem nasceu para ser. Mas ela será do jeito que veio para ser, não do jeito que eu quero que ela seja e isso não significa ser uma vingança contra mim. Nem contra você.
Sementes
Opinião
Cada flor desabrocha a seu tempo
Na natureza, as sementes nascem leves para voar para longe da árvore-mãe, pois perto jamais poderiam vir a ser adultas um dia
Adriana Antunes
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