Nada se aprende se não se desaprender, antes, algo. Respire, mesmo que haja sufocamento. Falta de espaço. Nervoso. Acalme. A respiração precisa de ternura consigo mesmo para acontecer. Precisa de entrega, de desconstrução. O que entra precisa sair. Modere o que entra e o que sai. Então solte o ar que está preso. O ar que te asfixia, que cobre todos os espaços. Na medida em que o ar sai pelas narinas uma pequena brecha se abre entre os pensamentos. Saia do automatismo. Respire, mas pare de respirar o que todos ao redor te dizem para respirar. Respire seu respiro. Aquele experimentado no primeiro contato com este mundo, quando do primeiro grito, da chegada. Para nascer de verdade é prerrogativa respirar. Mesmo que se faça o choro. Então chore. Nossas lágrimas formam rios que nos levam a algum lugar. Quiçá, dentro de nós mesmos. Quiçá, naqueles lugares que mais temos medo. Lá onde nos sabemos sós. Lá onde somos primordiais. O choro é um lugar de encontro. Nossa alma navega, por vezes, neste rio feito de pranto. E o choro nos traz de volta. Vamos onde devemos ir, voltamos para onde devemos estar. Voltamos mais nós. É preciso verter a água aprisionada em reservas para não nos afogar na própria dor. Então respiração e choro andam juntos. Desde o nosso nascimento.
Últimos tempos
Notícia
Respire
Acalmar a respiração é voltar para um mar sem ondas
Adriana Antunes
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