Sim, é preciso ouvir a propaganda eleitoral antes de votar. É preciso assistir aos debates antes de se decidir. É preciso conversar de modo a aprender antes de sair ignorando a posição do outro. É preciso nos darmos conta de que nos últimos anos temos ficado mais truculentos em defesa de nossas opiniões. De certo modo, embrutecemos. É preciso, portanto, recuperarmos nossa capacidade de sermos pessoas e não brutamontes. É preciso aprendermos a escutar os discursos, a correlacionar as falas às atitudes, a pararmos de fazer concessões. É preciso que nos posicionemos porque estar em cima do muro só aumenta o cordão da alienação. É preciso aprender a ouvir o tempo em que vivemos, com a serenidade de quem envelheceu e aprendeu algo com a vida. É preciso voltarmos a aprender com os animais a cuidarmos uns dos outros, porque se dependermos somente da nossa inteligência empática estamos mais para destruir, bater, criticar, julgar do que respeitar. É preciso que possamos dar o braço a torcer e a perceber que as flores são muito mais inteligentes do que nós, pois toleram. É preciso que voltemos a aceitar nossa incompletude, afinal nascemos da ausência, basta lembrarmos que viemos de uma cena na qual não estávamos presente. E por mais que possamos recontar a história de como foi que fomos desejados e concebidos, nascemos do desejo do outro. Isso para nos fazer menos onipotentes, pois o desejo do outro nos constitui enquanto sujeitos. (E o não desejo também). É preciso, portanto, que saibamos silenciar diante do inevitável.
Opiniões
Notícia
Esperança
É preciso aprender a ouvir o tempo em que vivemos, com a serenidade de quem envelheceu e aprendeu algo com a vida
Adriana Antunes
Enviar email