Agosto está quase terminando, meu bem. E lá se vai mais um mês, mais um punhado de dias que nunca mais se repetirão. Te escrevo porque escrever é uma forma de se rebelar contra o mutismo do fim. O fim de todos os dias, de cada minuto, de cada momento, sorriso ou lágrima. Quando alguém querido vai embora tudo ao redor perde a voz. Há um silêncio imposto pelo que se foi. E foi-se uma história, uma vida, um amor, um pai, uma mãe, um filho, um cachorro, um gato, um sonho, a juventude. Foi-se o tempo e com ele uma porção de palavras, afetos, memórias. Há um mutismo na história que se encerra. Fico pensando quantas vezes ao longo de uma vida inteira seremos calados pela força do fim de algo. Então te escrevo, porque escrever é uma forma de escutar tua voz muda. Sei também que só podemos escrever porque alguma brecha se abriu entre o caminho da tua ida e o meu momento estático.
História
Notícia
Sobre-viver
Porque escrever os nossos mortos é sentir que estamos vivos e que eles permanecem vivos em nós enquanto pudermos falar deles
Adriana Antunes
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