Confesso que minha vontade é de escrever cada vez mais poesia por aqui. Assim como escreveu uma vez, a desbocada Hilda Hilst numa crônica, que comecei a ler ainda na adolescência e me fez falar palavrões sem culpa. Tudo em nome da licença poética. E catarse, também. É impressionante como a palavra adquire outra semântica quando invocada como verso. Isso tudo porque a indignação com as notícias segue a mesma desde os anos 90 quando achava que fazer jornalismo seria um modo de desforra com a realidade. Talvez a diferença de lá para cá seja tão somente a idade, os cabelos brancos, o peso acima dos padrões ditados pela sociedade e uma vontade maior de beber uma taça de vinho no meio da semana. Coisas de quem envelhece e se reconhece assim. Ainda escuto rádio AM, que não é mais AM, leio jornal impresso, dou aula de como escrever uma reportagem e insisto para que meus alunos leiam mais poesia.
Sábado, dia 21 de agosto, sem comemoração alguma e confesso que só lembrei no dia seguinte, completei 25 anos de trabalho como jornalista. Apesar de estar longe de uma redação desde 2016, mantenho meu vínculo com meu lado jornal escrevendo por aqui e dando aula. Dois anos antes, 2014, quando dei minha primeira volta em torno do Cabo das Tormentas, conhecido também como Cabo da Boa Esperança, decidi me reinventar e me lançar numa outra profissão. Como diz Clarice Lispector, tudo começou com um sim. E gradualmente, parti do zero, com quase 40 anos.
É estranho fazer um inventário por onde os sonhos passaram. É estranho dar-se conta de que a realidade foi me ensinando coisas que nunca havia sonhado. Da minha passagem pela Secretaria da Agricultura, Samae e Codeca como estagiária ao primeiro emprego com carteira assinada na Rádio Caxias, mal sabia que minha peregrinação jornalística estava começando. Assim, passei pela rádio São Francisco, depois Rádio Guaíba e Jornal Correio do Povo. Tive uma brevíssima passagem pela RBSTV. Depois veio a UCSTV e canal Futura. Circulei ainda pela agência StudioDesign e Editora Abril, na revista Vida Simples. Nas horas de folga fiz muito freela. Desses lugares carrego saudades, amigos, aprendizados. Carrego gente que nunca mais vi, gente que vejo de vez em quando e gente que virou amigo, comadre, madrinha de casamento. Amigos queridos com quem compartilho cafés, poesias, conversas e admiração. Carrego fontes que viraram amigos e eis um dos maiores presentes da vida.
Às queridas leitoras e leitores agradeço por suportar este pequeno momento melancólico. Sempre costumo dizer que se cheguei até aqui, não cheguei sozinha. Embora tenha feito o movimento de partir de um campo para me (re)inventar em outro, percebo que a palavra continua sendo meu reduto, pois é na boca que a palavra se encontra, se equilibra, fere e é ferida, conta e esconde, diz e (mal)diz e desloca o sentido, como na poesia, para desloucar quem somos e nos jogar de volta ao mar da vida.