Com o passar do tempo f_i aprendendo sobre a importância das peq_enas coisas, dos detalhes do cotidiano. De como aq_ilo q_e fingimos não ver, q_e achamos insignificante, de repente cresce e se torna o foco da nossa ang_stia. Coisas min_sc_las, q_e passam a nos incomodar prof_ndamente. Pode ser o fato dele não tirar a toalha de cima da cama depois do banho, o latido do cachorro preso de alg_m vizinho, o modo como ela mastiga, a mania de tirar as coisas do l_gar e não devolver, pode ser, por exemplo, a falta de _ma letra no teclado. N_nca dei importância para a tal letra q_e agora nem mesmo posso representá-la porq_e ela desapace_.Respiro aliviada por não ser a vírg_la, afinal não sei como conseg_iria escrever sem pa_sas. Assim como a vida, _m texto precisa respirar. No entanto, algo tão ridíc_lo como isso, interrompe o fl_xo de pensamento, atrapalha as ideias, traz à tona o desejo de fazer a letra “_” f_ncionar de q_alq_er modo. Me_ lado paranoico e obsessivo aparece, finalmente. Não tenho problemas com q_adros tortos na parede, nem com chão meio desnivelado, tão po_co me importo com a bag_nça dos livros sobre a mesa, mas q_ando se trata de escrever, as coisas m_dam de fig_ra. E aí, a falta da letra não me deixa ir adiante, fico patinando, repetindo ideias, tentando descobrir palavras q_e não tenham a tal letra faltante e percebo q_e começo a andar em círc_los.
Com você também, q_erido leitor, coisas assim devem acontecer. São as nossas peq_enas lo_c_ras. Gosto m_ito de _m psiq_iatra francês chamado Jean O_ry q_e dizia q_e todos nós carregamos em nosso psiq_ismo _ma espécie de estr_t_ra parecida com a da bolha de sabão. Em alg_m momento, seja por si mesma o_ pelo contato com o o_tro, rompemos, esto_ramos, explodimos. O mais impressionante disso t_do é q_e para q_e isso aconteça não necessitamos de algo grandioso, pelo contrário, as coisas mais peq_enas e corriq_eiras, desencadeiam em nós processos de r_pt_ra. O_ seja, nosso psiq_ismo é _ma espécie de pele q_e nos protege do m_ndo exterior, mas não necessariamente do q_e carregamos dentro.
Escrevo esse texto n_m desafio interno de dar sentido a algo q_e, metaforicamente, me corta a cada encontro com a letra faltante. Eis a falta. Eis o medo de nos darmos conta de q_e ela existe. Eis o encontro com a nossa própria lo_c_ra e nossa incapacidade de lidar conosco mesmos. Eis a constatação de q_e a vida é também assim, esb_racada. Po_co importa se o teclado for trocado, de certa forma, algo sempre estará faltando e s_portar a falta é se permitir encontrar com a beleza trágica de sermos incompletos.
Se você chego_ comigo até aq_i, grata pela leit_ra, pois não é fácil estar perto de q_em além de nos jogar de volta para o real, (de)mostra os vazios. Para lidar com aq_ilo q_e não entendemos, mas sabemos q_e vive em nós, é preciso paciência e amor, j_stamente as características f_ndamentais para se fazer a bolha de sabão e refazer toda vez q_e ela esto_rar.