2020 foi um ano estranho, acho que (quase) todos concordamos. Tivemos de aprender a vivê-lo a seu modo. Mas também foi um ano de reencontro consigo mesmo, para o bem e para o mal. Muitos de nós se depararam com seus velhos fantasmas, suas feridas de antigamente, dores sem data. Gosto muito de um filósofo chamado Martin Buber, que escreveu entre tantas coisas incríveis, o livro Eu e Tu. Buber sugere que quando encontramos com nosso próprio eu, quando conseguimos penetrar nossos recantos mais escuros, Deus aparece. Quando deixamos de ser o foco, aceitamos que somos imperfeitos e incompletos e que seremos assim por toda a vida, é como se abríssemos espaço para aquilo que se pode chamar, também, de espiritualidade ou mistério. E o Outro é sempre um mistério. O Outro do Outro e o Outro de nós mesmos. Essa busca por si, em algum momento, esbarra naquilo que pensamos ser a transcendência. Mas isso não significa resolver todos os problemas ou acabar com a angústia de viver. No entanto, pode significar que apesar de não compreendermos o mundo e as pessoas, ele ainda pode ser acolhido. Não somos tão diferentes do que temos do lado de fora. Podemos tentar agir diferente, sentir mais, refletir, ser ético, talvez menos ignorantes em determinadas questões, mas se fôssemos melhores não estaríamos aqui. Sejamos mais humildes, nosso dinheiro ou nosso conhecimento intelectual não nos salvam dos abismos que carregamos por dentro e que tanto nos assustam.
Após um 2020 estranho
2021 pede mais fluidez e menos ganância
Ser fluido é ter coragem de ser quem se é diante de cada experiência
Adriana Antunes
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