Atrás da minha casa passava um córrego. Isso quando nasci. Quando o bairro ainda não era e nem imaginava ser o que hoje é. Era um filete de água pura de pouco mais de um metro de largura. Passavam por ali gamberi, girinos e minha imaginação. Sempre fui encantada pela história do menino que morava dentro da barriga de uma baleia. Uma casa-peixe. Imaginem ter por destino ir morar dentro do estômago de outro ser. Deve ser daí a minha predileção por assuntos de gastronomia. Para além do estranhamento da lembrança, sempre achei que o maior carinho que alguém pode expressar é alimentar o outro. Talvez sejam resquícios de uma nona italiana e outra alemã que não sossegavam enquanto eu não estivesse mastigando algo o tempo todo. E hoje vivemos um tempo em que comemos tudo muito rápido, sem apreciar o gosto, o aroma, a procedência. Comemos sem saber.
Opinião
Adriana Antunes: comer e ser feliz
Precisamos (re)aprender a nos alimentar de alegrias, de poesias, de confiança, de coragem
Adriana Antunes
Enviar email