Em um inverno de 2013, o cantor e compositor Belchior, um dos maiores ícones da música brasileira, vivia um momento de busca por anonimato e paz, longe da fama que o consagrara nas décadas anteriores. Com sua esposa, Edna Prometheu, Belchior encontrou refúgio em Seberi, cidade do norte gaúcho com quase 11 mil habitantes, onde viveu por cerca de 60 dias entre camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Essa fase pouco conhecida de sua vida foi registrada no minidocumentário "Belchior entre os camponeses", produzido pelo jornalista Marcos Antonio Corbari. O filme revive os momentos desse período tão especial de convivência entre o cantor e a comunidade local.
O artista, cuja música sempre transbordou poesia e reflexão sobre a condição humana, encontrou em Seberi o acolhimento que tanto buscava, ao lado de Edna.
A decisão de se refugiar na cidade surgiu em meio a uma situação delicada em Porto Alegre, onde o casal estava vivendo em uma ocupação urbana. A mídia estava em busca do cantor, o que o deixou ainda mais distante da tranquilidade que procurava. Foi então que Roberta Coimbra, uma das militantes da Cooperativa Camponesa de Seberi (Cooperbio), sugeriu o abrigo na cooperativa, que foi prontamente aceito pelo Movimento dos Pequenos Agricultores.
A cooperativa, ligada ao MPA, foi o local onde Belchior e Edna encontraram anonimato e paz. Com o acolhimento caloroso das famílias, o casal experimentou dias tranquilos e imersos na rotina simples do campo. Ali, entre conversas e trabalhos coletivos, Belchior foi reconhecido não como o artista aclamado, mas como o ser humano que procurava se reconectar com o mundo de forma genuína e sem os holofotes da fama.
O minidocumentário de Marcos Antonio Corbari, com pouco mais de 30 minutos de duração, traz à tona relatos emocionantes de cinco pessoas que conviveram de perto com Belchior durante esses 60 dias. Marcelo Leal, Marcos Joni Oliveira, Débora Varoli, Joel da Silva e Lizane Brixner compartilham suas lembranças de um período que foi muito mais do que uma experiência com um famoso cantor, mas uma convivência rica em afeto, humanidade e aprendizado mútuo.
Os depoimentos ressaltam a convivência tranquila de Belchior com as famílias camponesas, que o acolheram com carinho, sem pressa de explorar sua imagem pública.
— A saudade não é do artista, é do tio Antônio — afirma Débora Varoli, uma das camponesas que viveu com Belchior.
Para ela, o convívio com o cantor foi marcado por momentos de descontração, brincadeiras com as crianças, pinturas e conversas animadas. Esse lado mais íntimo e afetuoso de Belchior é o ponto central do documentário, que também inclui as únicas fotografias tirada pelo cantor durante esse período, quando ele esteve entre os jovens militantes camponeses à beira de uma cachoeira.
O projeto "Belchior entre os camponeses" foi realizado com o apoio do edital local da Lei Paulo Gustavo, uma iniciativa do governo federal que visa promover a cultura em municípios de pequeno porte. Para GZH Passo Fundo, Corbari destacou a importância dessa legislação para a viabilização do documentário, já que sem ela seria difícil conseguir o financiamento necessário para realizar um projeto desse porte em uma cidade pequena como Seberi.
Além disso, o documentário traz a arte que Belchior e Edna produziram no período, incluindo o projeto Alimergia, uma iniciativa que uniu arte e questões sociais. A canção "Amanheceu", de Pedro Munhoz, também ganha destaque, com sua interpretação em homenagem ao cantor, que marcou tantos momentos da vida de seus admiradores.
Segundo Corbari, o objetivo do minidocumentário, além de registrar uma parte pouco conhecida da vida de Belchior, é educacional e cultural, e busca preservar a memória afetiva de quem viveu esses dias de convivência com o artista. Ele afirma que o projeto não busca fins lucrativos, sendo uma ferramenta de compartilhamento de memórias e histórias, algo que fortalece a cultura local e valoriza a história do Brasil.
Conforme o produtor do documentário, o encontro entre Belchior e os camponeses de Seberi foi, acima de tudo, uma experiência humana profunda, onde o cantor encontrou o que muitos buscam em suas vidas: paz, acolhimento e a chance de viver longe dos holofotes, mas sempre mantendo a sua arte viva.
— Eu vejo que nesses 60 dias entre as pessoas simples o Belchior e a Edna encontraram o que eles estavam procurando. Eles tiveram paz, tiveram carinho, tiveram abrigo, tiveram contato com a natureza e encontraram pessoas que estavam muito mais interessadas em acolher o tio Antônio e a tia Edna do que tirar proveito do artista Belchior — concluiu Corbari.
Para conferir o projeto completo, basta clicar aqui.