A tradição, os costumes e os valores de uma sociedade podem ser preservados de diversas maneiras. Os registros escritos ou gravados ajudam nesse processo, mas é de forma oral, de geração em geração, que isso se mantém vivo da forma mais orgânica possível. Por conta disso, a prefeitura de Passo Fundo promove a integração entre crianças, adolescentes e idosos que participam das atividades da Coordenadoria Municipal de Atenção do Idoso (DATI/COMAI).
A iniciativa, intitulada Escola Pública das Gerações, faz parte do programa global Cidade Educadora, onde a cidade é destaque. O projeto é feito por meio de uma parceria da coordenadoria com a Secretaria Municipal de Educação, levando as crianças das escolas para atividades junto aos idosos. São oficinas, conversas e trocas que colocam, frente a frente, as realidades de épocas diferentes.
– O principal foi trazer as crianças para dentro da coordenadoria, onde trabalhamos com 3.354 idosos, para mostrar como era a infância deles, antes da era do celular. Hoje, a gente sabe que as crianças nascem e já têm o telefone em mãos. E foi muito bonito, nós ficamos muito felizes com a integração – conta a coordenadora da DATI/COMAI, Tânia Mara Carraro.
O primeiro eixo trabalhado foi o da cultura do chimarrão e do carreteiro. Uma vez por semana, 30 alunos da rede municipal eram levados à coordenadoria, onde os idosos ensinavam a preparar a tradicional bebida dos gaúchos. Falavam da origem e davam dicas para não fazer feio na roda de mate.
– Um dos idosos explicou como era feita a erva-mate, até chegar ao chimarrão, então uma das crianças levantou a mão e disse ‘eu já entendi da erva, agora quero saber de onde vem a cuia’. Então nós percebemos que eles estão interessados – relembra Tânia.
Além do chimarrão e do carreteiro, os brinquedos analógicos, de outrora, também entraram na pauta. Em uma das oficinas, os estudantes confeccionaram o jogo “Cinco Marias”, brincaram com bilboquê, bonecas de pano e carrinho de rolimã. Agora, está chegando a hora de retribuir e ensinar aos idosos como lidar com dispositivos mais modernos, como os smartphones.
Entenda, em 5 pontos, a importância desse contato e também das demais atividades promovidas pela coordenadoria:
1) Valorização da pessoa idosa
Os idosos se sentem valorizados quando ouvidos. As atividades da Escola Pública das Gerações promovem isso, já que definem pautas de interesse das crianças e adolescentes, de modo que os mais experientes se tornam referência no assunto e, assim, têm toda a atenção.
2) Preservação dos costumes
As novas gerações, muitas vezes, acabam tendo mais contato com culturas de outros países e regiões do que com as próprias raízes. Tendo momentos dedicados a trocar ideias e ouvir os mais velhos, cresce o interesse pelo que é próprio de sua terra.
3) Cuidados com corpo e mente
Além do encontro de gerações, a coordenadoria promove 25 oficinas. São atividades para cuidar do corpo, como ioga, pilates e alongamento, e também da mente, com aulas de celular, computador e diversos instrumentos musicais. Cursos de idiomas também são oferecidos, como os de francês, inglês e italiano. Em 52 grupos, convivem mais de 2,7 mil idosos. Diariamente, cerca de 120 pessoas passam pela coordenadoria.
4) A vida ainda está no analógico
Além de ouvir os mais velhos, os jovens podem desfrutar de momentos de integração longe do mundo digital. Entre as próximas atividades está a produção de chás na horta de uma escola do município. Os idosos, então, irão até o local para ensinar aos jovens como cultivar as próprias plantas para, depois, preparar a bebida.
5) Arte e cultura
Diversas outras iniciativas colocam os idosos de Passo Fundo em constante movimento. Inspirado no programa da Rede Globo, o Vovô Voice é o concurso que permite que eles soltem a voz no palco, com direito a cadeira virando e tudo. Já o Viagem dos Sonhos leva grupos de idosos para conhecer lugares como Maceió (AL) e Porto Seguro (BA). A próxima excursão sai em novembro, para Vitória (ES). A atividade ficou suspensa desde o começo da pandemia.
As experiências que os jovens passam, de contato com a vida fora das redes e da internet, permitem a troca de conhecimentos, o tato e a empatia com diferentes visões de mundo e histórias de vida. A compreensão das diferenças em relação à idade, por si só, já é uma grande lição para jovens e idosos.