Por Sandro Wainstein, advogado especialista em gestão de riscos e negociação
Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Datafolha mostra que 76% dos brasileiros são favoráveis ao aumento do Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês. Outros 20% se dizem contrários. Embora o desejo de justiça social seja legítimo, é necessário refletir com mais profundidade: aumentar impostos sobre uma parcela da população realmente resolve os problemas do país?
A resposta é não. O Brasil não tem um problema de arrecadação. Ao contrário: temos uma das maiores cargas tributárias do mundo entre os países em desenvolvimento e um dos sistemas de fiscalização mais eficientes. A Receita Federal é altamente estruturada e atua com tecnologia de ponta. O verdadeiro problema está na gestão dos recursos públicos.
O caminho mais justo e sustentável é reduzir a carga tributária para todos
O debate sobre justiça fiscal costuma girar em torno da redistribuição da carga: cobrar mais dos que ganham mais e aliviar os de renda mais baixa. Porém, essa lógica ignora um ponto central — o mau uso dos recursos já arrecadados. O dinheiro público, muitas vezes, é mal gerido, desperdiçado ou mal direcionado, e isso independe de qual classe social está pagando mais ou menos.
O projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, com potencial para beneficiar cerca de 849 mil gaúchos que recebem até R$ 5 mil por mês, pode trazer alívio momentâneo. Mas se não vier acompanhado de uma gestão mais eficiente, de reformas administrativas e de uma verdadeira responsabilização pelo gasto público, será apenas uma medida paliativa.
A solução não está em aumentar o tributo de uns para aliviar outros. O caminho mais justo e sustentável é reduzir a carga tributária para todos, estimulando a economia, gerando empregos e ampliando a base de arrecadação de forma natural. Mas, para isso, é essencial enfrentar o verdadeiro desafio: melhorar a gestão do dinheiro público. Sem planejamento, transparência e compromisso com o bom uso dos recursos, qualquer mudança na estrutura tributária será inócua. O Brasil não precisa tributar mais — precisa gastar melhor.