Por Karin Leite Dresch, advogada
Por vezes dizemos: “Esta mulher é forte”. Considerando as circunstâncias, poderíamos pensar sobre a possibilidade de estarmos confundindo altivez com força. Certa vez, notei que numa parada de ônibus havia uma mulher segurando uma criança que dormia em seus braços. Pensei: “quanta força”! Provavelmente havia trabalhado o dia todo e, após buscar seu filho(a) na creche, voltava para casa, onde possivelmente, teria mais horas de labor. Ela não usava saltos, tampouco parecia usar maquiagem. Sequer tinha uma bolsa — tinha apenas algumas sacolas. Suponho, também, que não delegava funções no seu trabalho; talvez aquela mulher nem tivesse voz. Como uma mulher sem voz pode ser forte?
Fiquei imaginando os conflitos; as tensões; as incertezas; os medos; as inseguranças, as modificações bruscas e intensas que poderiam ocorrer na vida daquela mulher, daquela mãe, esposa, filha, amiga. Como uma mulher com medos pode ser forte? Parece descomplicado dizer-se forte em condições confortáveis. Aquela mulher era forte mesmo no desconforto. Assim como muitas outras, talvez viva na constante expectativa de melhorias, sem poder adotar nenhuma postura negativa ou imobilizante, sem escolha para desistir, com suas vidas marcadas por desigualdades.
Quando tivermos medo, que outras possam nos encorajar
Nós mulheres estamos em todos os lugares: aspirando a nosso lugar na política, somos donas de casa, manicures, educadoras, dentre tantas mais. Somos mulheres pretas, mulheres brancas, mulheres transgênero, mulheres indígenas etc. Quando não tivermos voz, que outras falem por nós. Quando tivermos medo, que outras possam nos encorajar. Que nenhum salto ou profissão defina nossa força. Precisamos perceber que estamos lidando com sociedades plurais e desiguais, marcadas pela existência de grupos em vulnerabilidade. Juntas, sem competições ou comparações, seremos ainda mais fortes, para que não possa existir nada capaz de anular ou restringir o nosso reconhecimento nem calar a nossa voz.