Por dom Jaime Cardeal Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Há questões que caracterizam a existência humana às quais cada geração é chamada a responder: Quem sou eu? Que sentido tem a vida? Qual a sua origem e seu objetivo? Qual a razão do existir? Qual sentido dar a tudo que experimentamos? O que buscamos? Qual o horizonte norteador das próprias escolhas, decisões e ações? Que lugar tem o outro na vida?
Numa sociedade líquida, caracterizada pela rapidez, pelo instantâneo e fugaz, semelhantes questões são relegadas a segundo plano, em detrimento da própria saúde da sociedade. A violência e a brutalidade, em suas múltiplas expressões, requerem das melhores forças da sociedade uma introspecção honesta e profunda sobre o tipo de mundo em que vivemos, queremos viver e almejamos deixar para as próximas gerações.
Lugar de destaque neste trabalho possuem as escolas e universidades, sem olvidar o que compete à instituição familiar
Promover e aprofundar conhecimentos humanísticos, culturais e científicos se torna em tal contexto uma exigência. Urge identificar um núcleo de convergência, um horizonte de compreensão que ofereça sentido ao lugar em que o ser humano se encontra, ao seu empenho de viver a vida com suas possibilidades, desafios e ameaças. A tradição ocidental caracterizou como núcleo de convergência do humano o “coração”. É ele que, na fragilidade dos eventos transcorridos, percebe o esplendor de algo característico, permitindo-nos, por exemplo, não esquecer a graça de um olhar, a despretensiosa disponibilidade de uma mão estendida, a importância da presença amiga.
Lugar de destaque neste trabalho possuem as escolas e universidades, sem olvidar o que compete à instituição familiar. Os processos pedagógico-educacionais não podem estar focados somente na preparação de indivíduos para o mercado de trabalho. Decisivo é orientar e formar, com determinação e disciplina, para uma convivência social integrada e integradora, na qual a dimensão do coração tem certamente lugar de destaque. Isto implica “uma educação integral que não se limita à transmissão de conhecimentos, mas busca formar homens e mulheres capazes de compaixão e amor fraterno (...) Uma educação que prepara para o futuro, formando, além de profissionais competentes, adultos maduros que serão artesãos de um mundo mais belo e mais humano” (Papa Francisco).