Por Fábio Bernardi, sócio-diretor da HOC
A infância são as férias da vida. Não há grandes preocupações, não é preciso trabalhar e o tempo é um looping diário entre amigos, alegrias e sorvete.
Tenho oito anos e estou de férias. As férias são o nosso retorno à infância. Na infância estamos constantemente com o pé no chão, nenhuma água é fria e tiramos a etiqueta da roupa porque ela pinica na brincadeira. Exatamente tudo o que buscamos nas férias: só queremos pé na areia, banho de mar ou piscina e uma roupa desleixada para passar o dia.
O fim de semana são as férias da semana, o almoço, as férias do dia; o Instagram, as férias da reunião; o namorinho no sofá, as férias da DR. A risada são as férias da conversa, e a piada de 5ª série, as férias de ser adulto
Infância é o ser humano na sua essência, sem pose ou fingimento. Férias são a tentativa do ser humano de, ao menos por uns dias, se reconectar consigo mesmo. E nada nos reconecta mais do que um banho de mar. O banho de mar é uma conexão direta com a nossa alma. Leva embora as impurezas, lava a mente e o espírito. Nos eleva e nos deixa leves. Vai ver que é por isso que as pessoas na Bahia (onde passo as férias) são mais soltas, mais “de boa”. Porque com o mar logo ali, elas se visitam mais na infância. Nós, nestas cidades com água nas ruas e sem praia, é que ficamos eternamente adultos depois de crescidos.
Como já disse, escrevo este texto em férias, e as palavras também ficam mais preguiçosas, felizes, leves. Como são as férias. Como é a infância. Como a vida também deveria ser. Sempre. Sim: sempre. O fim de semana são as férias da semana, o almoço, as férias do dia; o Instagram, as férias da reunião; o namorinho no sofá, as férias da DR. A risada são as férias da conversa, e a piada de 5ª série, as férias de ser adulto. Esta coluna mesmo são pequenas férias das notícias.
Mas nós, aqueles cujas férias de verdade um dia terminam (para mim esse dia é hoje), sabemos como isso é difícil. Há sempre uma realidade a cortar a brincadeira, um mundo a nos criar problemas que não são mais imaginários. As chuvas em Santa Catarina, a crise do Pix, o dólar a seis reais, o bolo de arsênio, o Inter sem grandes contratações, a Meta abolindo os fact checking, a morte do Léo Batista. O mundo tá nublado, ontem foi a posse do Trump e tá se armando um temporal. Perdoem-me, mas, diante de tudo isso, a minha cabeça quer outras férias. Afinal estes são assuntos para adultos, não é mesmo?