Por Igor Oliveira, consultor empresarial
No primeiro mês do governo Bolsonaro, escrevi aqui na coluna que chamar de burros membros do primeiro escalão não era uma boa estratégia. Além de aumentar o fosso entre os bolsonaristas e o resto do País, quem o faz está incorrendo em erro. Não é a burrice que predomina no núcleo duro do governo brasileiro.
Estamos lidando com uma versão digitalizada da estratégia militar conhecida como guerra de manobra. Consiste em criar o caos, fazer uma leitura de cenário mais rápida do que os adversários políticos e agir (nas mídias digitais) antes mesmo que eles entendam o que está acontecendo. Não é à toa que os canais de distribuição de notícias falsas voltaram agora, durante a pandemia, aos mesmos níveis de atividade das eleições. Eles sabem que o importante é manter uma base sólida de cerca de 30% da população para permanecer no poder.
Aliás, essa lição vale para governos de todos os países que adotaram a escola Bannon/Cambridge Analytica de fazer política. Eles não são ingênuos, apesar de quererem parecê-lo. Foram pioneiros de uma poderosa combinação de ferramentas de psicometria, análise de redes e segmentação de conteúdo. Essas tecnologias transformaram o jogo político no mundo todo.
Enquanto isso, um dos fundadores da Alphabet (mais conhecida pela marca Google) acaba de entrar para um painel que vai "reimaginar" uma Nova Iorque pós-pandemia. A empresa tem tentado emplacar uma série de projetos de vigilância digital em cidades da América do Norte, sem grande sucesso até então. Eric Schmidt, que já era membro de outros conselhos de políticas públicas federais nas áreas de defesa e segurança, argumenta que suas concorrentes chinesas gozam de uma sinergia muito maior com as autoridades, e que, se nada mudar, vão dominar o mercado global de vigilância de cidadãos. Os EUA correm o risco de ficar para trás, mesmo com orçamento recorde de pesquisa em defesa (inclusive inteligência artificial) proposto pelo presidente Trump.
Nesse contexto, me pergunto quem do campo democrático brasileiro está em contato com cada uma das outras grandes nações no planeta e com cada uma das gigantes mundiais da tecnologia digital para articular estratégias e alianças. Não há como construir projetos viáveis de poder e de País sem essa interface. Ainda mais se considerarmos que detemos grandes reservas de recursos naturais e biodiversidade, cada vez mais desejadas por esses atores.