Por Stephen Doral Stefani, médico
As redes sociais estão fervilhando com aplicativos que “envelhecem” as pessoas. Simular a aparência para quando se atingir idades projectas é uma brincadeira divertida, mas envelhecer no mundo real é um assunto sério.
Uma das maiores conquistas da humanidade foi o aumento da expectativa de vida, que foi acompanhada por uma melhoria substancial nos parâmetros de saúde das populações, embora essas conquistas estejam longe de serem distribuídas uniformemente. Atingir a velhice, que já foi privilégio de poucos, hoje se torna mais comum. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas com mais de 65 anos, que é de 7% em 2019, atingirá 15% da população em 2034, superando a barreira dos 20% em 2046. Em 2060, um em cada quatro brasileiros será idoso. Essa grande conquista do século 20, no entanto, tornou-se um desafio.
Entre as consequências do envelhecimento, além dos inevitáveis aumentos nos gastos com saúde e previdência, o IBGE destaca o maior percentual de pessoas dependentes. Projeções estimam que o número de pessoas atendidas por não-familiares (cuidadores) dobrará até 2020 e será cinco vezes maior em 2040 comparado com 2010. A taxa de fecundidade também deve continuar caindo. Atualmente, são 1,77 crianças para cada mulher e deve cair para 1,66 em 2060. As políticas públicas não podem se concentrar apenas nos idosos, uma vez que é impossível manter uma boa qualidade de vida para eles sem grandes investimentos em crianças, jovens e adultos em idade de trabalhar, que irão, de alguma forma, sustentá-los.
O investimento em saúde, educação e “pleno emprego e trabalho decente” é essencial para garantir a solidariedade intergeracional, para que o aumento da expectativa de vida possa ser positivo, tanto social quanto economicamente.