Por Luis Fernando Marasca Fucks, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja- RS)
Antes dos anos 1800, a agricultura de subsistência gerava poucos excedentes. Havia parcos estoques de passagem e a carestia de comida determinava casamentos e a possibilidade de procriação. A evolução do homem sempre esteve condicionada ao controle do ambiente onde vive, desde os primórdios, quando se defendia de feras e iniciava a agricultura.
Nas grandes plantações, apenas os elementos do ar e a insolação não podem ser controlados. Quando as condições atmosféricas são altamente favoráveis ao desenvolvimento de pragas e doenças, o homem utiliza os defensivos para evitar que os cultivos sejam destruídos. São esses tratos culturais modernos que nos remetem àquela sociedade humana, quando nossos antepassados procuravam garantir a sua frágil sobrevivência. Na essência, hoje, seguimos dando vazão aos instintos mais primitivos.
A partir do momento em que o agricultor lança sua semente ao solo, inicia-se um embate diário para proteger o cultivo de pragas, doenças e ervas invasoras. No caso dos cereais, a luta continua dentro dos armazéns, quando traças e gorgulhos se multiplicam exponencialmente, atacando a massa armazenada. Muito se tem questionado sobre o uso de inseticidas sobre os grãos, alegando incertezas sobre resíduos. No entanto, pouco se pode questionar a respeito do potencial altamente cumulativo e carcinogênico das micotoxinas, resultantes da ação de fungos após ataque de pragas, sem o devido tratamento.
Os agricultores estão muito preocupados com a opinião da sociedade. Não há sentido algum em utilizar substâncias nocivas que, mesmo sob uso controlado, poderiam trazer riscos à saúde. A esse quadro juntam-se os apelos dramáticos daqueles que vivenciaram doenças gravíssimas, como o câncer, dos quais compartilhamos. Queremos saber, de fato, o que está causado essa epidemia, doa a quem doer.
Subtraindo os componentes passionais que envolvem a questão, resta a realidade, onde o mundo não conseguiu abdicar do uso de defensivos. Cabe a sociedade, em um debate maduro, contrabalançar o ônus e o bônus da atual abundância, variedade e qualidade dos alimentos disponíveis. O bônus parece ser todo o conforto que essa riqueza permite. O ônus parece significar que, como nossos antepassados, continuaremos a incansável luta pelo controle do ambiente onde vivemos, buscando estender esse mesmo conforto a todos.