Os dois se abraçaram, se deram tapinhas nas costas e trocaram elogios e gestos de afeto, mas Emmanuel Macron e Donald Trump não estiveram de acordo em tudo durante a reunião desta segunda-feira (24) sobre a Ucrânia.
O presidente francês e seu colega americano retomaram as demonstrações públicas de afeto de onde haviam parado após o primeiro mandato do republicano (2017-2021).
Isso não impediu que aflorassem tensões pela mudança repentina de Trump em relação à Rússia.
O presidente francês, algo incomum para um visitante no Salão Oval, interrompeu seu colega de 78 anos quando este repetiu a afirmação falsa de que a Europa empresta à Ucrânia um dinheiro que pensa em recuperar.
"Não, de fato, para ser franco", disse Macron, tocando o braço de seu colega americano para interrompê-lo na metade da frase, "pagamos 60% do esforço total e foram, como nos Estados Unidos, empréstimos, garantias, subvenções".
Trump sorriu e disse depois: "Se você acredita, para mim está tudo bem."
- 'Astuto' -
Apesar de suas desavenças sobre a Ucrânia, os dois encenam um relacionamento privilegiado.
"É um cara astuto", disse Trump, dando um golpe carinhoso no braço de Macron depois de contar uma anedota.
Após um jantar na Torre Eiffel com suas respectivas esposas, o presidente francês respondeu em francês aos jornalistas.
"Não havia intérprete, ele falou e falou e eu apenas balancei a cabeça", disse Trump. "No dia seguinte, li os jornais e me dei conta de que isso não era o que havíamos conversado. É um cara astuto, eu lhe garanto", comentou o presidente americano, segurando o antebraço de seu colega, sentado a seu lado, entre os risos do público.
Macron respondeu segurando a mão de Trump e ambos riram juntos.
O chefe de Estado francês, de 47 anos, parecia inclusive secar um dos olhos por chorar de tanto rir.
No caminho para a Ala Oeste, trocaram um abraço e outro aperto de mãos.
Posteriormente, na coletiva de imprensa conjunta, apertaram as mãos pela enésima vez, antes de encherem um ao outro de elogios.
Macron ressaltou a "amizade de seu primeiro mandato", enquanto Trump elogiou a restauração da catedral de Notre-Dame destruída por um incêndio.
"Meus cumprimentos a sua bela esposa", disse Trump ao final da coletiva.
A diplomacia internacional está sempre repleta de simbolismo, mas no caso de Macron e Trump isso se multiplica.
- 'Amistoso, mas firme'
O melhor aperto de mãos de todos ocorreu quando se conheceram pela primeira vez em Bruxelas, em 2017, ano em que ambos iniciavam seus primeiros mandatos presidenciais.
Fazendo careta, um Macron muito mais jovem segurou a mão de Trump até que o presidente americano foi forçado (duas vezes) a soltá-lo.
As fotos revelaram que o francês deixou marcas brancas de dedos nas mãos de Trump.
A ofensiva de Macron para conquistar o presidente americano continuou um ano depois, quando Trump agarrou sua mão e praticamente o arrastou até o Salão Oval em 2018.
Mas os esforços de Macron não foram suficientes para convencer Trump a permanecer no acordo climático de Paris e no pacto internacional com o Irã para limitar seu programa nuclear.
A relação esfriou depois do primeiro mandato de Trump, mas Macron correu para recuperá-la quando o americano venceu as eleições de novembro de 2024.
Trump estava encantado por ter sido convidado a assistir à reabertura da catedral de Notre-Dame em dezembro.
Como era de se esperar, os dois deram um novo aperto de mãos, que desta vez durou 17 segundos.
"Nenhum líder mundial trata Trump tão bem quanto Macron. É amistoso, mas firme. Respeitoso, mas não tem medo de enfrentá-lo quando pensa que está equivocado. E Trump o respeita por isso", disse o jornalista britânico Piers Morgan, amigo de Trump de longa data, na rede social X.
* AFP