Por Guilherme Cassel, Auditor fiscal, ex-diretor do Banrisul, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário do Brasil
Para discutirmos o caráter público ou privado do Banrisul é necessário evitar fundamentalismos. Não estamos em um Gre-Nal ou em uma disputa partidária vulgar, mas frente à necessidade de se abordar com clareza e objetividade a conveniência de um Estado como o RS ser o acionista controlador de um banco comercial de varejo. Assim, se impõe uma primeira e decisiva pergunta: o Banrisul tem sido uma vantagem competitiva ou um entrave para a economia gaúcha?
Tenho absoluta convicção que o Banrisul tem se constituído em uma enorme vantagem competitiva para a economia gaúcha e, por isso, defendo que deva continuar público. Desde a sua fundação tem sido um banco com a atenção voltada para a economia do Rio Grande e sempre demostrou enorme capacidade e sensibilidade para construir soluções efetivas para os impasses econômicos e financeiros que atravessam a vida das empresas do nosso Estado. E como é um banco que conhece como nenhum outro as potencialidades e singularidades da nossa economia é ele que tem demonstrado maior disposição e capacidade para apoiar e financiar novos investimentos e empreendimentos inovadores no RS. Um banco com 4 milhões de correntistas, muitos dos quais só têm acesso a um banco porque o Banrisul está sempre perto e acolhe a todos. Para quem trabalha e produz aqui, faz toda a diferença dispor de um banco público com sede em todos os municípios e com um centro de análise e decisão próximo. Em resumo, nós gaúchos temos o que os outros Estados da Federação não têm: um banco público, voltado aos interesses da nossa gente e da nossa economia.
Mas alguém ainda poderia argumentar que num ambiente de alta competitividade um banco com olhar regional não tem chances de se viabilizar. É um argumento que merece ser enfrentado e nada melhor para enfrentá-lo do que a própria história do banco. Com todas as suas particularidades o Banrisul segue dando lucro e distribuindo dividendos ao Estado e aos demais acionistas. Tem sido eficiente e competitivo. Todo o mercado reconhece que o Banrisul é um banco extremamente eficiente e reconhece que grande parte desta eficiência se deve a um corpo técnico altamente especializado que, ao longo de mais de 90 anos, desenvolveu uma cultura organizacional voltada para equilibrar as necessidades de uma economia regional com os desafios de um mercado globalizado.
Por que razão, então, perderíamos um instrumento de política econômica e de desenvolvimento tão potente? Por que abrir mão de um banco que segue dando lucro e sendo fonte de receita para o Tesouro? Qual a racionalidade econômica disso? Só para satisfazer o delírio de meia-dúzia de fundamentalistas do chamado Estado-mínimo? Para agradar aos burocratas da União? Para concentrar ainda mais o sistema bancário nacional quando o mundo todo caminha para um mercado financeiro mais pulverizado? Para abater uma dívida que deve ser renegociada? Não me parecem razões razoáveis. Os resultados do banco falam por si.