Pela terceira vez consecutiva, líderes de bancadas na Assembleia gaúcha decidiram adiar a votação de projetos que tratam de reposição salarial das categorias de maiores ganhos do Estado. É importante que o período até o assunto voltar novamente à pauta seja aproveitado para uma reflexão maior sobre o futuro das finanças do setor público gaúcho e sobre o que a sociedade e seus representantes no Legislativo podem fazer para garantir alguma margem de ação ao futuro governador, Eduardo Leite. A responsabilidade da crise não é do funcionalismo. Ainda assim, os servidores devem compreender, neste momento, que a solução também depende deles.
Mesmo os funcionários mais abnegados – não apenas do Executivo, mas de todos os poderes – precisam reconhecer que o setor público gaúcho, em muitas áreas, mantém uma estrutura voltada para atender a um passado que não existe mais. A tendência, que em alguns casos passa a ideia de a máquina administrativa ter parado no tempo, acaba prejudicando a todos. Perdem os servidores, que no caso do Executivo não conseguem mais nem receber seus salários em dia, muito menos vê-los garantir a reposição das perdas. Perdem também os contribuintes, que passam a depender de serviços cada vez mais precários. E o próprio setor público se vê às voltas com déficits crescentes, bancados a um custo que impacta toda a sociedade.
Um bom passo para avançar, tirando o Estado da estagnação, seria pensar no presente. O grande salto, porém, só será dado quando a sociedade conseguir estabelecer consensos de futuro. Se a saída dependesse apenas de vontade política, o governador José Ivo Sartori teria mantido em dia o pagamento dos salários dos servidores, pois era candidato à reeleição. A questão, porém, está nas travas que impedem o poder público de fazer o esperado: máquina gigante e ineficiente, corporações autofocadas.
A crise responsável pelo emperramento do setor público gaúcho é resultado de muitas decisões erradas tomadas no passado, mas o que importa agora é construir um futuro. Só uma reforma profunda do Estado possibilitará que os servidores sejam valorizados como merecem, com melhores condições de trabalho, salários condizentes com a sua formação e pagos em dia. Essa reforma é que deveria estar no horizonte da Assembleia, em sua composição atual ou na nova configuração a partir de 2019, sempre com a compreensão e o estímulo por parte da sociedade.