Por Frank Jorge, professor da Unisinos, músico, compositor, colorado, pai do Rafael, Érico e Glória
Nasci, joguei bola na calçada, quase fui atropelado e outras tantas coisas morando na Rua Tomaz Flores no bairro Bom Fim em Porto Alegre/RS. Esta saga começou antes do meu nascimento, em 20/09/1966, no Beneficência Portuguesa. Meu pai veio de Uruguaiana, se formou em Medicina (UFRGS) e faleceu cedo aos 45 anos em 1968. Minha mãe era natural de Porto Alegre, família de Santana do Livramento. Com sabedoria e bom gosto raro, não se queixava da vida, falava francês e espanhol, tocava piano e cantava muito bem. Juntos, geraram seis filhos. Juntos, conheceram Buenos Aires e Montevidéu, cidades que proporcionavam congressos de medicina e contato com produções culturais do mundo todo.
E o que esta história familiar toda tem lá algo a ver com a "identidade gaúcha"? Tudo! Este foi o tipo de identidade gaúcha que herdei e que foi se metamorfoseando com o tempo: discos de vinil de tangos argentinos de Juan Darienzo e Francisco Canaro, discos do Paixão Côrtes, livros do Simões Lopes Neto, Erico Verissimo; neste mesmo balaio e época –final dos 1960/ início dos 1970, discos dos "Los Beatles", Henry Mancini, Os Mutantes, Roberto Carlos, tudo misturado, sem estabelecer hierarquias do que é melhor ou pior e sem erguer impossibilidades.
Atuei/atuo em grupos musicais de música pop com projetos artísticos de amplas referências e concretizamos trabalhos autorais no mínimo... esquisitos, buscando universalidades, mas sem deixar de lado termos locais, sotaques, com um olhar de quem sempre viveu e ainda vive aqui. Aprecio chimarrão e ver o bioma pampa em sua extensão planície afora a caminho de Santana do Livramento/Rivera. Não me sinto menos gaúcho que o meu pai ou Paixão Côrtes, ambos nascidos na fronteira, respectivamente, Argentina e Uruguai. Gaúcho, urbano, alvirrubro e com permanente saudade rural. Entretanto, ando um pouco arredio. Diria Roberto Carlos, são tantas emoções. Porto Alegre, por sua vez, são tantos buracos. Melhor sorte pra nós gaúchos-brasileiros no pleito que se aproxima. Abraço cordial. Saúde e paz. Sorriso largo. De a cavalo.