Por Vitória Raskin, assistente social
De acordo com dados levantados pelo IBGE e fornecidos pela Organização Mundial de Saúde, o Brasil tem o alarmante número de 30 milhões de animais abandonados. As mesmas instituições, não disponibilizam, entretanto, os dados relativos a quantas crianças, adolescentes e adultos estão em situação de rua.
Por incrível que possa parecer, essas informações não são objeto de pesquisa no censo demográfico.
No próximo 23 de julho estaremos celebrando o Dia Nacional de Enfrentamento À Situação de Rua de Crianças e Adolescentes.
Portanto, dia de se reavaliarem discursos de que não há nada de errado em se olhar para animais e não para crianças, porque os bichinhos não têm pais para olharem por eles. Dia de olhar para adolescentes não apenas com o medo que nos é peculiar ao ver a arrogância que o abandono implantou nos olhos deles. Dia de se poder olhar para adultos vulneráveis com menos crítica e repulsa, considerando que estão nesta situação porque são preguiçosos e não querem trabalhar.
Vamos aproveitar esta oportunidade para refletirmos sobre as vulnerabilidades sociais que assolam pais e filhos, sobre crianças e adolescentes que não tem pais nem estado fazendo o que precisa ser feito por eles, sobre pais que abandonam porque foram abandonados e não conseguem fazer diferente, sobre perpetuação dos ciclos de pobreza e miséria, sobre crianças que dão à luz a outras crianças, sobre um país com 13 milhões de desempregados, sobre municípios com educação e políticas públicas desmanteladas.
Ao contrário do que muitos de nós preferimos acreditar, não há desculpas nem justificativas para tamanho descaso com o nosso semelhante. Quantos de nós nos enternecemos com pequenos cãezinhos no carrinho do morador de rua sem olhar para o humano sujo e mal nutrido que os acolheu? Não precisamos deixar de amar os animais para enxergarmos as pessoas.
Que esta data que se aproxima nos ajude a tirar da invisibilidade este contingente de cidadãos abandonados por todos nós.