Por Lucas Fuhr, sociólogo e advogado
O Brasil vive um momento político acirrado, e isto se deve às disputas de narrativas. Em 2016, tivemos a destituição da então presidente da República e, em abril último, a prisão do ex-presidente Lula. Diante disso, vivemos hoje uma intensa polarização, onde falar de política é como pisar em ovos.
Por um lado, o campo que está no governo joga com a oficialidade, uma vez que o impeachment de Dilma e a prisão de Lula foram ambos chancelados pelo STF. Quanto às bases disso tudo, tanto o impeachement foi anteriormente fundamentado por parecer do TCE – que aponta pela ocorrência de crime de responsabilidade –, quanto a sentença que condenou Lula embasa, em 218 paginas, o entendimento de que os crimes imputados a ele de fato ocorreram, merecendo punição. A esquerda, por sua vez, responde que tudo isso consiste numa perseguição promovida pela "direita antipovo" e que Dilma e Lula somente foram, respectivamente, destituída e preso em razão de suas virtudes, pois "governavam em favor dos mais pobres", tendo a restado à direita combatê-los através de um "golpe" e de uma "prisão ilegal".
O cidadão alheio à plasticidade e às artimanhas destes discursos deve questionar-se: "Foi Dilma que, com sede de poder, tomou medidas fiscais dolosas, visando reeleger-se, além de Lula ter se beneficiado da amizade com os empresários? Ou, ao contrário, Dilma não cometeu irresponsabilidade fiscal, tampouco Lula cometeu crimes, e sim o Congresso e o Judiciário que 'pesaram a caneta' para obstruir estas duas lideranças, em prol de uma agenda política antipática aos mais pobres?".
A verdade é que existem pessoas honestas defensoras de ambas as narrativas, mas a ficção do "lado certo da história" não passa de pretensão de superioridade moral. A direita segue com sua tática lacerdista, como se os desvios de conduta da esquerda justificassem seus próprios maus tratos com a coisa pública. A esquerda, por sua vez, segue populista, arrogando ser a voz dos mais pobres, tentando manipular suas esperanças de forma maniqueísta. Nesta eleição, os desonestos serão aqueles que subestimam a nossa inteligência.