O que simboliza o dia 7 de abril de 2018? É o dia em que a prisão de Lula colocou à esquerda o dilema do seu fim. A lição é que ela terá de se reinventar, unida, voltando ao começo, recuperando o sentido das lutas do ABC.
A prisão de Lula não pode ser resumida apenas à prisão de uma liderança política. Seu discurso implica a existência de uma dimensão transcendental que não pode ser compreendida apenas pelo olhar da política: é preciso reconhecer que Lula foi capaz de recuperar a presença do sagrado na vida pública.
Havíamos perdido a fé na política e nos seus líderes. Os acontecimentos do dia 7 foram religiosos porque terminaram por recuperar o sagrado no espaço da política. É nesse sentido que Lula é uma ideia, porque sua prisão é real, mas o aprisionamento do sentido de sua luta é uma ilusão. Não se pode acabar com a ideia de um mundo melhor.
O dia 7 de abril foi lugar de uma expressão política imortal raramente vista na história.
Nenhum fim é concebível para a esquerda, pois a prisão de Lula, esse equivalente simbólico da morte, impede-nos de trabalhar o que ficou além dele. Toda a transmissão televisiva, no detalhe, foi esse ritual de sacrifício, espécie de via sacra que tinha como objetivo mostrar o fim da transcendência da esquerda encarnada no homem. Que tudo tenha acontecido em São Bernardo do Campo é outra prova de misticismo, o lugar é o Gênesis da esquerda.
Quando Lula diz que não se mata uma ideia, significa que diz que há alma na política, a crença num mundo melhor. Seu discurso foi a recuperação da transcendência que a crítica política e a ordem de prisão nada tinham a contrapor. Ao aceitar a prisão, entregando-se às autoridades no final do dia, Lula aceitou o sacrifício – ele podia fugir, óbvio. Para quê? Para saldar as dívidas da esquerda, seus erros. A prisão de Lula salva a esquerda, e ele, pagando por seus erros, pode deixar a esquerda recomeçar. Essa é a reversibilidade poética do acontecimento (Baudrillard), reversibilidade do fim no começo.
O dia 7 de abril foi lugar de uma expressão política imortal raramente vista na história porque mística: o discurso de Lula vem a se somar ao discurso de Getúlio Vargas de 1951 e ao de Jango na Central do Brasil de 1964, imortalizando-se.