Seguidamente lembro de uma história que um professor querido da minha faculdade contou em aula. Ele estava viajando pelo Nordeste quando passou por um menino que vendia manga-rosa na beira da estrada. Era uma pechincha absurda, como um saco grande de frutas por R$ 1, ou algo parecido. Ele pediu um saco e pagou aquela mixaria. Ao voltar ao carro, foi repreendido pela esposa, que disse para ele oferecer mais dinheiro ao menino. A resposta do professor à esposa foi a seguinte: se eu pagar mais, ele terá a sensação cada vez mais forte de que vale a pena ficar na beira da estrada vendendo frutas ao invés de estar na escola; ele precisa sentir que não vale a pena.
Poderia jurar que vi os olhos do professor marejarem quando contou essa história. E ela me inquieta até hoje. Trata-se de um dilema ético, moral e também econômico. O tópico em pauta naquela aula era o custo de oportunidade, que é a expressão daquilo que você deixa de ser ou fazer para estar onde está. Por exemplo, se está lendo este texto, está deixando de ler outra coisa; esse é o custo de oportunidade. Em suma, trata-se da versão técnica para o clichê “cada escolha uma renúncia”.
Na história daquele menino, a ideia seria tornar a realidade menos encantadora, para que aquilo ao que ele renuncia se tornasse mais atrativo e para lá ele voltasse. É de fato lógica a ideia de que a sociedade deveria se postar de modo a induzir as pessoas a buscarem o seu melhor, não se acomodarem, não pensarem que vale a pena deixar a escola de lado.
Porém, a conta é muito mais complexa do que isso. Eu não acredito que as pessoas se acomodem por simples escolha de vida. Seria ingênuo acreditar, por exemplo, que mais de 12 milhões de famílias brasileiras dependem do Bolsa Família simplesmente por uma escolha de vida, uma escolha pela acomodação. O que ocorre é que a versão alternativa na vida delas, na grande maioria dos casos, é muito pior.
O ideal, no caso do menino, é que para vender manga-rosa ele tivesse de abrir mão de uma escola bem estruturada, com merenda, atenção médica e psicológica, de estar com sua família o tempo necessário para criar e cultivar laços, que ele não tivesse de ficar trancafiado em casa para não ser cooptado pelo crime. Se não for assim, será triste concluir que o saco de mangas-rosa do menino estará bem pago por
R$ 1.