* Advogado e aluno do curso de Ciências Sociais da UFRGS
É notável o retorno ao culto das ciências humanas, flagrado não só na maior procura por seus cursos superiores e na volta de matérias correlatas ao currículo de ensino secundário, como no sucesso de pensadores que incorporam um fenômeno midiático-literário a que chamo de "humanas pop".
Os expoentes das "humanas pop" – e mesmo a academia – florescem no cenário de uma geração polarizada e de clamores genéricos, individuais e coletivos contra quaisquer formas (ou sentimentos) de opressão, de frequentes embates democrático-representativos e até de uma percepção de piora da existência humana derivado das 'crises' em searas e dimensões diversas.
Com início em Alain de Botton, passando pelos nacionais Pondé, Karnal e Clóvis de Barros, a Yuval N. Harari (com seu indispensável Homo Deus), dentre os autores mais reputados, veiculam-se pensamentos consumidos na emergência destes tempos. Todavia – ao largo de soluções acadêmicas tão efervescentes quanto açodadas, de respaldo ideal não raro sacralizado e formulista, que grassam em vaidosas e rançosas ideologias mais ou menos sinistras – a nota comum às "humanas pop" é a de uma humildade perante a vida e a natureza, que aparta da busca por uma existência mais feliz, receitas sedutoramente prontas e fáceis de singular enlevo ou de saciar desejos (também políticos).
É dizer: vocações teoricistas, apressadas e pseudo-salvacionistas são incompatíveis com uma humildade propositiva de vias éticas potencializadoras de consolações e alegrias, resignações e relativizações, apreensões e distanciamentos intelectivos ou pragmáticos da cíclica, dual e agridoce (a)ventura de ego e grei na qual todos gozamos e padecemos.
No desenho algo fatídico da humana experiência, os pensadores das "humanas pop" ensinam, com leveza, a sua latente tolerância, aplacando um certo "ascetismo sectário" acadêmico que, no limite, traduz fórmulas idílicas de felicidade ou contentamento pessoal e social – opte, aliás, in extremis, pelas inefáveis bênçãos do capital ou por glamorosas utopias de igualdade.