* Mestre em Letras, professora estadual
Estamos vivendo em um mar de lamas, sei que isso é clichê, mas não me surge uma metáfora melhor que essa. Sim um oceano descomunal de lodos. Estamos atolados por uma corrupção que invade todas as arestas da vida em sociedade. Essa decomposição dos valores humanos que nos atinge através desses atos políticos nefastos. Políticos estes que nos saqueiam aos poucos: tiram nosso dinheiro, nossa dignidade e por ultimo a nossa alma. Estamos nos transformando em seres vendáveis, corruptíveis, indiferentes a tudo e não acreditamos mais na justiça. Afinal se chefe maior do Brasil pode enganar, mentir e comprar o silêncio para não sofrer represália pelos seus atos, por que nós reles seres comuns não podemos também cometer infrações sem temer as punições.
O " dá nada" se instalou como uma praga rasteira que se alastra ferozmente, E a escola como uma representação da sociedade, um microcosmo dela, reproduz esses mesmos valores ou a falta deles nos seus ambientes. Assim vemos turmas inteiras colando ou passando colas através dos seus penduricalhos digitais para colegas ou outras turmas sem nada podermos fazer. Se, por caso, questionamos, podemos ouvir de um aluno: – Ai, sora dá uma delação premiada que deduro quem passou todas as questões da prova! Então, olhamos com um sorriso amarelo em partes divididas entre a vergonha do pais em que vivemos que produz esse tipo de discurso e a criatividade torta do adolescente. Podemos vestir nossa capa professoral, passar um belíssimo sermão, mas corremos o risco de ouvir muitos deboches nos lembrando das malas cheias de dinheiro de tantos políticos expostos nas mídias ou dos perdões aos vários delatores.
Indo além das pequenas transgressões nas escolas e quando surge as agressões verbais, ameaças contra professores e funcionários nesse microcosmo que acaba reproduzindo os valores aos quais está exposto, o que fazer? O " dá vigente" nos toma conta, vestimos uma capa enorme da indiferença, então seguimos, afinal não temos nada para denunciar e ganhar uma delação premiada, assim ir embora. A cada notícia de mais uma corrupção, uma delação premiada, pergunto-me: será que caminhamos para o fim, o apocalipse? Ou para indiferença total do "dá nada"? Se for um fenecimento, fica implícito um novo começo, uma reconstrução. Se for a indiferença me vem alguns versos do Bertold Brecht: "Primeiro levaram os negros, Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Agora estão me levando, Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém. Ninguém se importa comigo."
Devemos temer? Devemos sonhar? Devemos reconstruir? Mas o quê?