Diante das resistências ao aumento de impostos para enfrentar um déficit nas contas públicas estimado em R$ 58,2 neste ano, o governo federal optou por um conjunto de medidas que, na prática, evitam onerar demais o contribuinte ou prejudicá-lo com cortes excessivos de investimentos. Ainda assim, o fim da desoneração da folha de pagamentos de quase todos os setores da economia encarece ainda mais a abertura de abertura de vagas, num país que precisa reduzir o desemprego. E os cortes de gastos, mesmo preservando saúde e educação, punem os contribuintes com menos obras ainda. O receituário amargo só faz algum sentido por reafirmar que, pelo menos, o Planalto não abre mão de trabalhar com responsabilidade fiscal.
Ainda que tenham se mostrado menos drásticas do que o elevado desequilíbrio nas contas indicava inicialmente, as decisões anunciadas pelos ministros Henrique Meirelles, da Fazenda, e Dyogo Oliveira, do Planejamento, indicam um equívoco na previsão orçamentária. Demonstram também que mesmo uma equipe econômica reconhecidamente competente, como a formada pelo governo Michel Temer, ainda não conseguiu convencer a sociedade de que é possível conter o déficit público.
Uma das razões para desconfiança sobre a possibilidade de o país cumprir plenamente as metas fiscais está na dificuldade de cortar privilégios de corporações, que dominam estruturas e têm grande influência no Congresso, ainda mais em tempos de investigações. Outra é o fato de uma parcela dos cortes corresponder ao bloqueio de emendas parlamentares – difícil de ser concretizado por um governo que depende integralmente do apoio do Congresso.
Os brasileiros precisam ter consciência de que, se já é difícil agora, a situação das contas públicas tende a piorar ainda mais sem a reforma da Previdência, hoje ameaçada. Quando maior o déficit, maior será também o ônus repassado para a sociedade.