As decisões sobre dois temas em relação aos quais a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, tem prazo para se pronunciar até o final do recesso do Judiciário podem funcionar, na prática, como um divisor de águas da política brasileira. Por sua relevância, essas questões põem a política em xeque e desafiam o poder das instituições frente ao combate à corrupção, pois têm potencial para atingir em cheio representantes de peso do meio político. Entre esses, estariam integrantes do governo atual e do que o antecedeu até o processo de impeachment.
Instada por um pedido de urgência no caso feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e na condição de plantonista, a ministra terá que decidir nesta semana se homologa ou não os acordos da delação de 77 executivos da Odebrecht, a maior da Lava-Jato. Precisará dizer também se o sorteio do novo relator da mais temida das operações será entre os integrantes da 2ª Turma, responsável pela operação no STF, ou entre todos os seus ministros.
Juntamente com a definição do Planalto sobre quem será indicado para preencher a vaga aberta no Supremo, essas são questões relevantes para o futuro do combate à corrupção no país, que ganhou maior visibilidade com as denúncias surgidas a partir das investigações na Petrobras. O momento é crucial na luta contra a corrupção, pois vai definir até que ponto as instituições estão preparadas para enquadrar uma elite política envolvida em desvios.
A situação enfrentada hoje é particularmente propícia para que a política se redirecione para um novo patamar ético. Isso só irá ocorrer se houver pressão permanente por parte da sociedade, não por vontade dos políticos de maneira geral.