As demissões em massa anunciadas pelo Estaleiro Rio Grande têm antes de mais nada um impacto traumático para os 3,2 mil trabalhadores atingidos e seus familiares, para os quais será preciso garantir oportunidades neste momento de crise. O anúncio atinge também o projeto naval do município e o plano de desenvolvimento anunciado como perspectiva de tirar da estagnação a metade sul do Estado. Infelizmente, confirma-se mais uma vez que os maiores prejudicados por um projeto mal enjambrado, a partir do qual a indústria naval brasileira imaginou dar um novo salto, são os trabalhadores, muitos dos quais vão virar o ano desempregados.
No momento em que o país está novamente em busca de alternativas para reativar a economia, o sofrimento dos trabalhadores em Rio Grande serve como um triste alerta sobre os riscos de soluções improvisadas. No caso da Ecovix, a empresa criada para atuar na construção naval pela Engevix, o principal equívoco começa no modelo, que tinha pés de barro ou no barro da corrupção.
Toda a concepção estava baseada na promiscuidade entre Petrobras e empreiteiras, agora desmantelada pela Lava-Jato. O falso sonho vendido pelos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff acabou se confirmando como pesadelo para os demitidos, cuja situação esteve sendo analisada ontem, em Rio Grande, pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
É compreensível que, diante desse quadro desolador, a indústria nacional busque respaldo em líderes políticos e sindicais para se mobilizar na defesa do conteúdo local em plataformas de petróleo. Independentemente das alternativas a serem encontradas, esse é o momento para redefinir a atuação da atividade em novas bases, que privilegiem a ética, além de compromissos com prazos e preços adequados e o rechaço a práticas de cartel.