O governo federal encaminhou ao Congresso uma proposta de emenda constitucional para restringir os gastos federais por 20 anos, a limites impostos pela inflação anual, num inédito congelamento orçamentário que está provocando reações contrárias de vários setores da sociedade, especialmente do funcionalismo público. Ao mesmo tempo, 21 Estados e mais de 3 mil municípios apelam ao Planalto por ajuda porque não têm recursos sequer para honrar a folha de pagamento dos servidores. Esta situação falimentar da administração pública no Brasil leva governantes a apelarem para medidas verdadeiramente drásticas, como as que estão sendo propostas pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e que tendem a ser replicadas em outras unidades da federação.
A verdade é que o país não tem escolha: ou ingressa numa era de austeridade ou continua estagnado, com governos arrecadando apenas para custear suas máquinas administrativas, com a economia estagnada e com mais de 12 milhões de desempregados. Diante de uma situação assim, não há mais margem para demagogia, para manobras corporativistas e para a manutenção de privilégios que protegem algumas categorias de brasileiros.
O sacrifício tem que ser compartilhado por todos, mas o próprio governo federal vem dando exemplos contraditórios. Ao mesmo tempo em que revisa programas sociais e benefícios, gasta injustificadamente com festa no Planalto, com cartões corporativos e com viagens excessivas em aviões da Força Aérea Brasileira. Só nos primeiros cinco meses de gestão do presidente Michel Temer, seus ministros utilizaram 781 vezes aviões da FAB, contrariando decreto que proíbe esse tipo de deslocamento.
Se não fizerem o dever de casa, o governo federal e os estaduais não terão moral para defender os programas de austeridade que tentam aprovar nos respectivos parlamentos.