O debate na comissão especial da Câmara que analisa as 10 medidas contra a corrupção, sugeridas pelo Ministério Público Federal e entidades respaldadas por mais de 2 milhões de assinaturas, é uma oportunidade imperdível para o país enfrentar com eficácia a esperteza, os privilégios e a desonestidade nas relações entre os setores público e privado. O exame das alternativas por parte da Câmara, à qual caberá decidir quais serão transformadas em lei, deve ser acompanhado de perto pelos cidadãos. É preciso evitar que o embate entre parlamentares e integrantes do Judiciário, acirrado pelo recrudescimento da Operação Lava-Jato, possa ser usado para desvirtuar essa contribuição decisiva para a moralização do país.
O próprio relator da comissão, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), considera o assunto um "terreno minado", tais são os interesses envolvidos e as tentativas de alteração que vêm sendo propostas. É natural que, diante de um pacote tão amplo de medidas – incluindo o aumento da pena máxima para condenados por corrupção e a classificação desses casos como crime hediondo –, os parlamentares se sintam inclinados a fazer alterações e a cortar eventuais excessos.
O inadmissível é que o excesso de debates ou de alterações propostas possa ser usado como pretexto para procrastinação. O risco não está descartado num Congresso no qual legisladores, muitos dos quais já condenados por corrupção, costumam se proteger atrás da imunidade parlamentar e do foro privilegiado.
A Câmara, sob novo comando, não pode desperdiçar a chance de reconquistar credibilidade, contribuindo para fechar o cerco à corrupção. Os brasileiros não suportam mais tanta hipocrisia dos políticos e tanta desfaçatez relacionada ao uso de dinheiro público.