Ainda que tenha de cumprir apenas um mandato-tampão até janeiro do ano que vem, o novo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, terá mais poderes do que seus antecessores, a começar pela possibilidade de se tornar o substituto imediato do presidente da República caso o impeachment de Dilma Rousseff seja confirmado. Mas a grande expectativa sobre o escolhido é saber se ele assumirá de fato um compromisso com a aprovação das medidas de ajuste fiscal e de cortes de despesas indispensáveis para o combate da crise econômica e para a retomada do crescimento. Evidentemente, o presidente não vota sozinho, mas tem influência sobre a pauta e determina o ritmo das votações.
O que importa mesmo é a base de apoio do governo, que terá de ser recomposta depois da fragmentação decorrente de múltiplas candidaturas para a presidência da Casa – reflexo, também, da carência de lideranças consistentes. Num semestre com Jogos Olímpicos e eleições municipais, o Planalto terá que contar com total adesão dos parlamentares governistas para conseguir votar medidas tão urgentes quanto impopulares, como a que já tramita no Congresso prevendo teto de gastos com pessoal nas esferas federal, estadual e municipal.
Mesmo que o presidente escolhido tenha afinidade com o governo e que a base de apoio feche minimamente em torno das propostas apresentadas, a Câmara terá dificuldade para recuperar a confiança da população, fortemente abalada em decorrência do comando pernicioso de Eduardo Cunha e do envolvimento de parlamentares em irregularidades. Basta observar que, dos 17 candidatos que se apresentaram inicialmente para disputar a presidência da Casa, apenas cinco não possuíam ocorrências na Justiça ou nos Tribunais de Contas, com processos ou inquéritos abertos contra eles.