Ninguém desconhece o prestígio do ex-deputado Paulo Ferreira junto às escolas de samba do Rio Grande do Sul. Seu nome já apareceu na bandeira de uma delas e outra chegou mesmo a compor um samba-enredo para ele. Ferreira é reconhecido como um mecenas do samba, por intermediar recursos para diversas escolas da Capital e do interior do Estado. Ontem, porém, o ex-parlamentar e ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores teve sua prisão preventiva decretada – embora já estivesse encarcerado desde o dia 24 de junho – sob a acusação de auferir vantagens indevidas de contratos públicos na esfera federal, especialmente na Petrobras. Segundo o Ministério Público, há "contundente demonstração" de que ele recebeu, por intermédio de operações de lavagem, valores das empresas integrantes de um consórcio de empreiteiras que participavam de obras no Centro de Pesquisas da Petrobras. E o dinheiro oriundo da propina, conforme o MP, foi repassado para uma madrinha de bateria, para um cantor de escola e para os próprios filhos do ex-deputado.
É muito enredo para pouco samba. Embora seja obrigatória a ressalva de que ninguém pode ser condenado previamente com base apenas em delações e investigações preliminares, não se pode também ignorar as desconfianças que recaíam sobre o petista, inclusive por parte de companheiros de partido, por conta de gastos acima do padrão normal em suas campanhas eleitorais. Além disso, algumas correntes partidárias criticavam sua afinidade com o ex-ministro José Dirceu.
A Operação Abismo, como foi batizada pela Polícia Federal, respinga nos sambistas gaúchos que mantiveram estreitas relações com o ex-tesoureiro petista. Mas serve de alerta para os próximos Carnavais. Como disse um dos sambas-enredo do último Carnaval carioca, para acertar o rumo de sua história o Brasil precisa "clarear as tenebrosas transações".