Desde que deixei Mariana, duas semanas antes da tragédia de lama, meu perfil no Facebook virou uma janelinha. Sim, fiz uma coleção de fotos de janelas em Mariana. De todos os tamanhos e cores, elas são símbolos de uma beleza colonial sem tamanho da serra mineira.
Estive na cidade histórica convidada pela vizinha Ouro Preto, que, atenta ao futuro, promoveu o 1º Festival de Turismo da região. Jornalistas, operadoras, patrocinadores e gente de turismo de todo o país aceitaram a convocação com a missão de divulgar o destino aos viajantes. Entre os participantes, destacou-se um jovem nativo que, aos 33 anos, tornou-se este ano o secretário de Turismo de Ouro Preto. Mestre em Turismo, foi dele a ideia do festival e conseguiu atrair a atenção de todos falando corajosamente que estava mais do que na hora de mudar o fator de desenvolvimento social de sua terra. A plateia ouviu quieta. E aplaudiu. Foi então que eu percebi a força avassaladora da mineração na região. Não há patrimônio histórico da humanidade, beleza arquitetônica suficiente para gerar sustento à população de Ouro Preto e Mariana. Desde a primeira pedra de ouro encontrada por ali até a atual exploração de minério de ferro, mesmo com toda a atual concorrência da China e do Pará, ainda é o que garante a sobrevivência do povo.
O jovem secretário contou-me depois que 78% da arrecadação de Ouro Preto vem da mineração. Com os olhos no futuro, Felipe Vecchia Guerra também sabe da tendência de queda no preço do minério que, segundo ele, já passou de US$ 180 para US$ 60, a tonelada, representando uma perda de R$ 5 milhões ao mês este ano para Ouro Preto. Em outubro, Felipe conseguiu reunir parceiros importantes para tentar virar o jogo em prol do turismo. Agora, talvez a sua iniciativa tenha de se transformar em uma questão de ordem. Os centros históricos não foram abalados. As dezenas de igrejas, museus e obras de arte, construídos por artistas como Aleijadinho, seu pai, Mestre Ataíde e tantos outros permanecem intactos. E se a tragédia na vizinha Mariana determinar o fim da Samarco, o próximo Festival de Turismo precisará ser um sucesso ainda maior. Por enquanto, permaneço na janela. Torcendo por Mariana e por seu povo.