A gente complica demais.
Minha filha vomitava muito quando era bebê. Nem sei se era tão muito, mas é a lembrança que ficou. Pais de primeira viagem, nos assustávamos mais do que ela. Nos atiramos a fazer todos os exames possíveis, sempre orientados pelo Dr. Luis Alberto Piccoli, nosso pediatra. E as hipóteses sendo descartadas, uma por uma. E nós fazendo exames. E ela vomitando.
Não era refluxo, não era intolerância a alimentos, não era alergia, não era nada. Ou melhor, era alguma coisa, mas não descobríamos o quê. Foram meses de peregrinação a laboratórios, hospitais e consultórios.
Minha filha não apresentava qualquer outro problema. Dormia bem, se alimentava bem, socializava bem, ganhava peso bem. Mas, de repente, vomitava. E nós nos assustávamos. E ligávamos para o paciente pediatra. E fazíamos exames.
Um dia, o pediatra nos chamou para conversar. E avisou logo que, finalmente, tinha uma resposta definitiva. Nos sentamos, atentos e preocupados. O Dr. Piccoli foi direto ao assunto, sério e seguro: "A filha de vocês é uma criança que vomita de vez em quando".
Ponto. Nenhuma palavra mais.
Nos olhamos, meio surpresos. "Como assim???" Ele continuou: "Fizemos todos os exames, descartamos todas as possibilidades. A filha de vocês vomita. E daqui a pouco vai parar de vomitar".
Aceitamos o fato. Chega de exames, chega de preocupação. Ela vomita. Uns demoram para falar, outros têm cólica, outros não dormem à noite. Nossa filha vomita.
Não lembro quando, mas não demorou muito. Passou. Nossa filha parou de vomitar.
Hoje, tudo é doença, síndrome, fobia. Toda reação, dor ou desconforto corresponde a um nome, tratamento e remédio. Mas tem coisas que passam sozinhas. Quase sempre, depois de serem vividas.
É preciso tempo, um certo sentido de descomplicação. E um bom pediatra.