Se o professor que faz greve precisa recuperar as aulas perdidas, para que os alunos tenham os 200 dias letivos mínimos exigidos por lei, não há como justificar o desconto do salário, que aparece nos contracheques de setembro. O governo marcou posição ao rodar a folha com o desconto e assustar os professores no fim de semana, mas é perceptível a estratégia de valorizar a negociação.
Não por acaso, na sequência de tuítes em que anunciou o pagamento dos salários de setembro na quarta-feira, o governador José Ivo Sartori legitimou o secretário da Educação, Vieira da Cunha, para negociar com o Cpers a recuperação das aulas perdidas e o abono do ponto nos dias de greve.
Impasse adia decisão sobre abono do ponto de professores grevistas
"Nossa principal motivação é garantir o direito das famílias e dos alunos a terem integralmente recuperadas suas aulas", escreveu Sartori, dando a senha para o acordo.
Em reunião entre Vieira e a direção do Cpers aprovou uma proposta de abono do ponto dos grevistas mediante a recuperação dos dias parados. É o óbvio ululante, reprise do que ocorreu em outras greves. O secretário saiu do encontro dizendo que levaria a proposta ao governador e que a resposta sairá, no máximo, até terça-feira. Fez jogo de cena: o valor descontado dos professores deverá ser pago em folha suplementar.
Aos pais e aos alunos interessa que a recuperação das aulas seja para valer. Esse papel de fiscalizar o que será feito cabe aos diretores das escolas. O maior desafio nem é com as crianças pequenas, que têm mais tempo para recuperar o conteúdo perdido durante a greve, mas com os adolescentes que estão às vésperas do Enem e do vestibular.
O governo se mantém irredutível na decisão de descontar os dias de greve dos servidores que não têm como recuperar o trabalho que deixaram de fazer. Faz isso para avisar os funcionários públicos que não haverá condescendência em futuras paralisações, mas é provável que, na Justiça, todos acabem reavendo o valor descontado, já que a greve foi causada pelo atraso no pagamento dos salários.