Por Raquel Recuero, Professora, pesquisadora e membro do Conselho Editorial da RBS
Um dos problemas mais sérios que precisam ser enfrentados na contemporaneidade é o papel das plataformas de mídia social na radicalização e na difusão do extremismo. Embora essas plataformas não sejam a origem do problema, é inegável que amplificam sua força, fornecendo infraestrutura e credibilidade para seu espalhamento.
Recentemente, por exemplo, viralizou o gesto do bilionário Elon Musk na posse do presidente americano Donald Trump, associado ao sieg heil, saudação nazista. Independentemente da intenção de Musk com o tal gesto, a mensagem ressoou como uma autorização e foi intensamente compartilhada (e celebrada!) em grupos extremistas que crescem cada vez mais online. Mensagens como essa, ao invés de ganharem repúdio e esquecimento, ganham tração e amplificam esses grupos, facilitadas por essas estruturas tecnológicas. Mas por quê?
Nós, enquanto usuários, somos também responsáveis pela circulação de conteúdos nesses espaços
É uma realidade complexa. Por um lado, vivemos uma crise social e de valores intensa. Por outro lado, essa crise é retroalimentada com falsas soluções, quando deveria ser debatida na esfera pública. No entanto, essa esfera agora é privatizada, dominada pelas plataformas digitais, que se tornam mediadoras perfeitas para o extremismo. Muitos pesquisadores, inclusive, têm identificado essa realidade como “polarização radical” ou “polarização destrutiva”, sugerindo que essa mediação dos discursos fornece o ambiente perfeito para o extremismo.
O caso é que as plataformas alimentam o ódio. Mas nós, enquanto usuários, somos também responsáveis pela circulação de conteúdos nesses espaços. Sem nossas ações, não há mídia social. Sem querer, será que também não compartilhamos o ódio? É fácil ser vítima dessas estruturas construídas para mobilizar pela emoção, e não pela razão. E a radicalização é a consequência direta dessas ações. Nós estamos sendo radicalizados todos os dias, como vítimas de uma estrutura que privilegia linchamentos virtuais, discussões inúteis e críticas incivilizadas. Sob a égide dessas plataformas, sentimo-nos seguros para dizer coisas que jamais diríamos.
Assim, a radicalização é um problema das plataformas, mas não só delas. É também um problema nosso, enquanto sociedade, e dos comportamentos e conteúdos que legitimamos todos os dias, na segurança do anonimato e alimentados pela emoção. É urgente refletir se é esta a sociedade que queremos construir.