
Uma cabelereira brasileira que buscava vida melhor nos Estados Unidos acabou presa pela polícia de imigração estadunidense e mantida entre homens na prisão de Guantánamo, em Cuba. A mineira Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, 28 anos, cruzou a fronteira do México com os EUA em 15 de fevereiro, e foi detida em El Paso, no Texas. Ela pretendia pedir asilo porque entende que no Brasil corre risco de morte por ser uma mulher transgênero.
Ao ser presa em território americano, no entanto, passou por vários centros de detenção sendo posta em alas masculinas, inclusive na base militar na América Central conhecida por abrigar acusados de terrorismo. Um depoimento dela, no qual conta também que sofreu assédio, foi divulgado pelo site The Free Radical. Tarlis também foi entrevistada pelo jornal Folha de S.Paulo.
— Falei várias vezes para eles que eu era uma mulher trans e não me sentia bem no local só com homens, que não me sentia segura. Tinha três beliches na cela, e um banheiro que não fechava a porta — contou ela, sobre o período em Guantánamo.
Após a prisão em El Paso, Tarlis foi transferida para um centro de detenção no Novo México. Durante nove dias, dividiu o espaço com 49 homens.
— Eu disse que estava sendo assediada por homens nos corredores e na cela, mas ninguém fez nada — relatou em depoimento.
Após esse período, ela conta que foi algemada e colocada em um avião militar. Só quando desembarcou é que foi informada de que estava em Guantánamo.
— Fiquei desesperada quando vi que tinham me levado para uma prisão em Cuba. Achei que estivesse indo para o Brasil, não sabia o que iam fazer comigo — recordou a mineira, que não fala em inglês.
— Os guardas não me tratavam como se eu fosse humana — acrescentou.
Após cinco dias em Cuba, Tarlis foi levada de volta aos EUA, passando por outros centros de detenção até ser deportada para o Brasil no começo de abril. No período presa, ela disse ter passado fome, porque a comida era sempre escassa, e também ter ouvido de funcionários da prisão que o governo de Donald Trump não reconhece a existência de pessoas transgênero.
Atualmente, ela está na casa dos pais em Alvarenga (MG), e busca quitar as dívidas que fez para tentar migrar aos EUA. Ela teria pago R$ 70 mil a um coiote — pessoas que cobram para ajudar migrantes na travessia irregular da fronteira do México.
O relato da brasileira foi incluído pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e pelo Centro para Direitos Constitucionais (CCR) em ação que tentava evitar o envio de detidos pela imigração a Guantánamo.