O candidato opositor em Honduras, Salvador Nasralla, afirmou nesta quarta-feira que não reconhece os resultados do "fraudulento tribunal eleitoral", que continua contando os votos da eleição de domingo e acusou o órgão de manipular resultados para favorecer a reeleição do presidente Juan Orlando Hernández.
"O tribunal manipula descaradamente as maletas (que contêm as atas) eleitorais, por isso não reconhecemos o sistema do fraudulento tribunal eleitoral", alertou Nasralla em entrevista coletiva, cercado por simpatizantes.
Suas afirmações foram feitas poucos depois que os resultados divulgados no site do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) deram uma pequena vantagem ao presidente Juan Orlando Hernández pela primeira vez desde a primeira divulgação da contagem dos votos, na madrugada de segunda-feira.
Com 82,89% dos votos apurados, o presidente Hernández tinha 42,21% dos votos e Nasralla 42,11%, segundo o TSE.
"Não reconhecemos os resultados porque hoje (quarta-feira) caiu o servidor (do TSE) e começaram a entrar coisas que não podemos permitir, atas que não estão assinadas e vocês podem verificar, são atas violentadas, não têm assinaturas dos representantes nas mesas", garantiu Nasralla, um popular apresentador de televisão de 64 anos.
- Não tem validade -
Mais cedo, a Organização de Estados Americanos (OEA) obteve um compromisso dos dois candidatos nas eleições para aceitar o resultado divulgado pelo tribunal eleitoral. O acordo de três pontos foi negociado pelo chefe da missão de observadores da OEA, o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga.
Nastalla disse que o acordo assinado por ele e Hernández com a OEA "não tem validade porque não vou aceitar que introduzam atas adulteradas" na votação.
Os Estados Unidos pediram que os candidatos respeitem os resultados.
"Instamos a todos os candidatos que respeitem os resultados assim que sejam anunciados" oficialmente, disse à imprensa a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.
Washington também solicitou que o TSE termine sua contagem "sem demoras indevidas".
"É crucial que a autoridade eleitoral hondurenha possa proceder de maneira transparente e livre, sem interferências", disse Nauert. "Os Estados Unidos pedem calma e paciência", acrescentou.
O ex-presidente, Manuel Zelaya, derrubado em 2009 e atualmente maior figura de esquerda de Honduras, acusou o governo de manipular as atas para mudar os resultados em favor da reeleição.
Zelaya, que é coordenador da Aliança de Oposição contra a Ditadura, declarou à AFP que o TSE alegou "inconsistências" para submeter 1.000 atas eleitoraos a uma revisão, em que foram "manipuladas" para alterar os dados a favor de Hernández.
"A tendência era irreversível" em favor de Nasralla, "mas a fizeram mudar", acusou o ex-presidente.
Na tarde de terça-feira, o TSE começou a atualizar o seu site com o avanço dos resultados, reclamados pelos observadores locais e internacionais.
O representante da aliança de Nasralla na contagem de votos, Rasel Tomé, reclamou que a paralisação da apuração nesta quarta sugere uma tentativa de alterar o resultado do pleito.
A lenta apuração gera incerteza entre os hondurenhos: muitos se perguntavam o motivo de, três dias depois das eleições, continuarem sem saber quem governará o país nos próximos quatro anos.
"O povo está preocupado porque não deram um ganhador, qualquer que seja, porque ninguém vai consertar o país", lamentou José Rosendo Rosales no parque Las Mercés, em frente à sede do Congresso.
"Em outras eleições até esta data já sabíamos quem era o vencedor, e desta vez não. Estão tramando algo?", questionou.
Indignado com a diminuição da sua vantagem, Nasralla voltou a falar das suspeitas de que os resultados das eleições estão sendo alterados para favorecer o atual presidente.
"Convido o povo hondurenho para defendermos nas ruas o que ganhamos nas urnas", tuitou Nasralla, ao convocar uma manifestação nesta quarta-feira na capital.
Seu principal suporte político, o ex-presidente Manuel Zelaya, derrubado em 2009, fez eco de seu chamado e escreveu na rede social: "os que perderam estão modificando as cédulas, vão declarar JOH (Juan Orlando Hernández) vencedor e roubar a vitória".
- Credibilidade -
Entretanto, o presidente de Honduras falou na terça-feira em sua casa, rodeado de simpatizantes, para terem paciência com os resultados do TSE, embora tenha insistido que o resultado final o favoreceria.
"Como democratas devemos esperar o resultado oficial da contagem de cada cédula pelo tribunal eleitoral (...). É importante que todo mundo tenha paciência", declarou o presidente.
Hernández se candidatou para um segundo mandato amparado em uma polêmica sentença do tribunal constitucional, apesar da Carta Magna hondurenha proibir a reeleição.
Sobre o tema, a socióloga Mirna Flores, da Universidade Nacional, advertiu que o processo eleitoral gerou um descrédito para as instituições que permitiram a candidatura de Hernández.
"Neste país os cidadãos estão deixando de acreditar nas instituições: uma Corte Suprema de Justiça aprova a reeleição, um Tribunal Supremo Eleitoral aceita a inscrição de um presidente quando é ilegal e agora esta instituição não tem legitimidade ante muitos cidadãos porque acreditam que estão tramando uma fraude eleitoral", disse Sosa à AFP.
Igualmente, o ativista Jorge Yllecas, da Frente Patriótica para a Defesa da Constituição, apontou a perda de credibilidade do TSE, que parece responder ao presidente Hernández.
"Hoje temos um Tribunal Eleitoral sem credibilidade, responsável por esta crise por agir como um subalterno do presidente; deveria sair a desautorizar o presidente quando se declarou vencedor e depois quando Nasralla o fez. Criou uma crise, um confronto que pode ter consequências fatais", advertiu em declarações à AFP.
* AFP