
O que levaria alguém a matar a pequena Stefani Letícia Lohmann, 10 anos, e a mãe Lisete Marilete Berner Lohmann, 41 anos, ainda é um mistério para os moradores de Arabutã. A Polícia Civil trabalha com as hipóteses de latrocínio ou acerto de contas, este relacionado a possíveis pendências do padrasto de Stéfani, Valdir Dannenhauer, 60 anos.
As duas foram mortas na noite de quarta-feira, em casa, na linha Guaraipo. Danhehauer também foi atingido por tiros e está no Hospital São Francisco, em Concórdia. Ferido, ele se arrastou até um vizinho e pediu socorro.
O pai de Lisete, Sírio Berner, que tem um bar ao lado da casa da filha, já tinha ido deitar quando começou a ouvir tiros e vozes. Ele levantou, chamou pela filha e, como não ouviu resposta, entrou na casa.
Os móveis estavam revirados, cartas na mesa indicavam que a família jogava baralho, panelas no fogo. Num dos quartos, encontrou a neta morta, em cima da cama. No chão, a filha ainda conseguiu balbuciar a palavra “mãe”.
– Ela queria contar alguma coisa e não conseguiu mais – disse Sírio.
Ele custa a acreditar que a perda da filha e da neta foi motivada por um simples assalto.
– Isso foi planejado – sugeriu.
Durante a semana, Lisete e Stefani ficavam no distrito de Nova Estrela, que fica a nove quilômetros da sede do município de Arabutã. A tia de Stefani, Dirlete Berner, era sua professora. E a mãe cuidava do neto de Dirlete, que tem um ano e dois meses, para que a sobrinha Sara Pereira pudesse trabalhar.
Depois da aula, Stefani ajudava a cuidar do menino. Sara lembra que eles iam brincar com bola no gramado atrás da casa.
– Ela gostava de brincar, cuidar do nenê e andar de bicicleta – lembrou Sara, que considerava a prima uma menina muito simpática.
Foi para Sara que Sírio ligou após encontrar as vítimas, pedindo ajuda para chamar os bombeiros. Sara chegou a ir até o local na noite do crime.
– A visão não foi nada agradável – desabafou.
Se fosse numa quinta-feira comum, Lisete e Stefani nem estariam em casa. Elas foram um dia antes para casa pois na sexta-feira era feriado pelo aniversário do município, que completou 24 anos. As atividades comemorativas foram suspensas pelo crime.
– Está todo mundo aborrecido – disse o frentista de um posto da cidade.
Lisete iria aproveitar o feriado para fazer pão e cuca, pois no sábado seria o aniversário de 21 anos do filho mais velho Rafael, que estuda agronomia na Faculdade de Concórdia. O outro irmão, Rodrigo, estuda no Instituto Federal e deve se formar técnico em agropecuária no final do ano.
A irmã Dirlei Giarolli lembrou que Lisete queria muito que os filhos fossem estudar.
– Ela fazia o que podia para ver os filhos formados – disse.
Dirlei e o marido, Moacir Luís Giarolli, ficaram sabendo da tragédia familiar pelo rádio. Eles moram e Itá e os familiares não tinham conseguido avisar. Dirlei lembrou que, após a morte do marido, por doença dos rins, há sete anos, Lisete teve que criar os três filhos sozinha. Agora, os três estão órfãos de pai e mãe. Chorando, disse que ninguém merecia isso, principalmente sua mãe.
– Nós queremos Justiça – foi deixou escapar Eli Berner, enquanto chorava também.
Para a moradora de Nova Estrela e dona de um mercado no local, Marlei Sommer Kopper, o crime só pode ter sido praticado por alguém da região.
– Não viriam de São Paulo para assaltar aqui no interior – argumentou.
Ela disse que a sexta-feira amanheceu triste e nem ouviu o canto dos pássaros como normalmente ocorre. Para Marlei, ficará a lembrança da menina dócil que vinha regularmente comprar coisas para sua mãe no mercado. Nem os funcionários do local escaparam do choro.
No Núcleo Educacional Municipal de Nova Estrela, uma das carteiras da quinta série ficará vazia a partir de agora. Justamente a que ficava atrás de Antônio Carlos Tatsch, 11 anos, um dos melhores amigos de Stéfani. Eles brincavam de jogar bola, pega-pega e Stéfani ainda ajudava o amigo nas tarefas escolares. O garoto não falou muito, mas revelou o sentimento de quem perdeu alguém muito importante.
– É bem difícil – disse.
A diretora da escola, Marlise Rochenbach, disse que fará uma reunião com os professores para avaliar como vão trabalhar essa situação.
– A gente nunca passou por isso – afirmou.
Ela se solidarizou principalmente com a tia, que perdeu a aluna, a irmã e a sobrinha. Marlise disse que Stéfani era uma menina muito sociável e estudiosa, embora tenha perdido o pai cedo. Gostava de jogar pingue-pongue e pebolim, em que se destacava
– Ela era uma menina muito amorosa, inteligente e madura – disse.
Os dois corpos foram sepultados no final da tarde de quinta-feira, no cemitério de Nova Estrela. Para Marlise, quem fez isso não escapará de uma justiça maior, a justiça divina.