Vinte anos depois do massacre de Srebrenica, no leste da Bósnia, onde 8 mil muçulmanos do sexo masculino, adultos e crianças, foram massacrados por forças sérvio-bósnias, a Rússia encontrou uma triste maneira de lembrar a data. Coube ao embaixador russo no Conselho de Segurança da ONU, Vitaly Churkin, a lamentável missão de vetar uma resolução que qualificava o episódio como aquilo que realmente foi: genocídio.
Churkin qualificou o texto da resolução de "agressivo, politicamente motivado e não construtivo". Nada mais irônico do que ouvir essas palavras de um representante do presidente Vladimir Putin, mas, para as mães e viúvas de Srebrenica, esse é um detalhe secundário. Os homens de Srebrenica morreram porque eram muçulmanos bósnios no maior crime contra a humanidade cometido em solo europeu depois da II Guerra Mundial. A Sérvia, evidentemente, agradeceu à Rússia.
Os capacetes azuis - soldados da força de interposição das Nações Unidas, em Srebrenica casualmente holandeses - não foram capazes de evitar o massacre. A resolução proposta pela Grã-Bretanha - outra não menos importante ironia, dado o histórico de atrocidades promovidas pelas autoridades coloniais britânicas - era uma forma modesta de reparar a responsabilidade das potências europeias nos Bálcãs entre 1992 e 1995: ter impedido os bósnios de se defender da agressão sérvia. Antes da hecatombe, Srebrenica havia sido declarada "zona protegida" pela ONU.
No domingo, o episódio de Srebrenica completará 20 anos. Eventos no mundo inteiro lembrarão os mortos. Contra esse exercício necessário de memória, a Rússia não tem poder de veto, nem Angola, China, Nigéria e Venezuela - que se abstiveram - podem se interpor com sua omissão ativa.
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Luiz Antônio Araujo
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