São 99% de tudo o que se escreve em todo o mundo que não são lidos por ninguém.
Escrevem, escrevem, escrevem e ninguém lê.
Por exemplo, compra-se ou assina-se um jornal e só se lê 10% dele. Montanhas de papel são gastas para ninguém ler.
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Sem falar nos livros. Há muitos livros que nem são adquiridos, vão para o lixo das livrarias.
E há milhares de livros que são lidos só nas primeiras páginas e logo abandonados, o leitor lê só as primeiras páginas e refuga todo o resto.
Em colunas de jornais, também acontece isso, a maioria dos leitores só lê o primeiro parágrafo, enche-se e passa para outro espaço.
Aqui no Rio Grande do Sul, houve dois casos, em períodos diferentes do passado, de dois escritores que eram famosíssimos como sendo dos melhores e ninguém os lia. Ninguém.
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Por sinal, um dia ainda vou ensinar a técnica de não fazer o leitor só ler o primeiro parágrafo, de prendê-lo até o fim da coluna.
Tenho usado essa técnica para prender o leitor de ZH há 43 anos. Modéstia à parte, com sucesso, tanto que nas últimas 15 pesquisas de 15 edições o call center de ZH registrou que fui primeiro lugar em leitura em oito dias. Fora os segundos lugares e os terceiros.
E é voz corrente no Rio Grande que a maioria amassante das pessoas começa a ler este jornal por esta coluna.
Então, tenho autoridade para ensinar. Provada.
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Eu acho um grande desperdício tudo o que se escreve e ninguém lê. Devia haver uma lei para obrigar as pessoas a lerem tudo o que se escreve, mas não há: funciona aí perfeitamente o critério de liberdade de escolha, ninguém pode obrigar a outrem ler algo absolutamente desinteressante.
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Mas o que mais me impressiona são as pessoas que escrevem e não têm consciência de que não são lidas: há casos de pessoas que escrevem há 40 anos e ninguém as lê, são um mistério de sobrevivência. Pensam que são lidas e prosseguem escrevendo num vazio abissal de leitura.
Ninguém as chama para dizer-lhes: "Espera aí um pouco, cara, ninguém está te lendo, muda de técnica, vê se passas a escrever algo interessante".
É impressionante a alienação das pessoas que imaginam erradamente que são lidas.
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Há casos de pessoas que escrevem diária ou semanalmente há mais de 30 anos e nunca houve sequer um leitor que lembrasse de uma só coluna sua ou tivesse decorado sequer um pensamento seu. É bárbaro.
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Há casos também de colunistas que na rua se encontram com uma pessoa e perguntam: "Leste a minha coluna hoje?". A resposta é: "Não li". E o cara de pau ainda observa: "Não sabes o que perdeste". E o outro pensa consigo assim: "Tenho certeza, a julgar por tudo o que esse alienado tem escrito, de que não perdi absolutamente nada".
Opinião
Paulo Sant'Ana: "Escrever para ser lido"
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