Por conta do caso de doping do atleta paulista Daniel Nascimento, o Brasil, pela primeira vez em 44 anos, não terá representantes na maratona olímpica, prova que tradicionalmente marca o encerramento dos Jogos. No entanto, nas Olimpíadas de Paris, em uma iniciativa inédita, a maratona será aberta para 20 mil corredores amadores, sendo que apenas 195 são brasileiros. E o Rio Grande do Sul estará presente.
Corredora há 10 anos, a porto-alegrense Mariana Fritsch foi uma das selecionadas. Quando cruzar a linha de chegada, na Esplanada dos Inválidos, a jornalista de 30 anos pretende erguer a bandeira rio-grandense.
– Antes mesmo de correr, já está sendo a minha maior experiência de corrida. Nunca fiquei tão emocionada e tão feliz por estar em uma maratona. Sinto que irei representar todos os corredores gaúchos que gostariam de estar aqui. E trouxe a bandeira do Rio Grande do Sul para homenagear o nosso estado por conta de tudo que a gente passou com a enchente em maio – conta.
As largadas das maratonas profissionais e amadoras serão em horários diferentes, mas o percurso será o mesmo, incluindo a largada no Hôtel de Ville, a chegada nos Inválidos, e o percurso pelas duas margens do Sena, passando por locais históricos, como a Torre Eiffel e o Palácio de Versailles.
A Maratona para Todos, como é chamado o evento nos materiais oficiais das Olimpíadas, recebeu 400 mil inscrições do mundo inteiro. Porém, para obter a vaga, cada atleta amador precisou, ao longo dos últimos anos, cumprir uma série de treinos prescritos pelo Comitê Organizador dos Jogos, sendo que o cumprimento das metas era fiscalizado através de um aplicativo. Ainda assim, entre todos que passaram nos desafios, foi feito um sorteio.
Uma das agraciadas foi a psicóloga Roberta Brauner, 34 anos, gaúcha de Porto Alegre e que mora em Londres. Ela exalta a oportunidade de correr uma maratona olímpica e de o Brasil estar de alguma forma representado na prova mais tradicional do atletismo.
– Essa coisa de a gente não ter brasileiros nos representando na maratona profissional me deixa muito triste. Mas não importa. Os brasileiros estarão aqui. Será a maior de todas as maratonas que eu poderia correr na vida, uma oportunidade única. Já estou me imaginando até sendo uma atleta olímpica – conta.
O sentimento olímpico é compartilhado por Mariana Fritsch.
– Embora eu seja uma maratonista amadora, não tem como não me sentir uma atleta olímpica competindo aqui em Paris. Toda a organização contribuiu para que nós nos sentíssemos atletas olímpicos de fato. Nem corri ainda, mas já está sendo uma experiência que eu nunca mais vou esquecer – completa.
Pelo percurso repleto de locais icônicos de Paris, pela presença inédita de milhares de atletas amadores e pelo glamour natural de uma maratona olímpica, a prova atrai atenção especial no mundo das corridas. A atleta fundista e meio-fundista Gabriela Bender, 26 anos, por exemplo, vive na Espanha e viajou à capital francesa não para assistir a Isaquias Queiroz ou as meninas do vôlei e do vôlei de praia. A motivação da gaúcha de Quaraí foi unicamente a maratona.
– Sou fã das corridas desde que eu tinha dez anos e assistia a São Silvestre. A corrida fez parte da minha infância e da minha adolescência. Já corri 1500 metros, 3000 metros e 10.000 metros, mas provavelmente a sequência da minha carreira será focada nas longas distâncias. Gosto da rua. As pessoas que correm na rua se sentem livres. Na maratona, o pessoal assiste nas ruas torcendo e gritando. Por toda essa emoção, acho que não tem prova melhor para terminar uma Olimpíada. A maratona realmente é especial, e quero estar aqui para sentir essa energia. É como dar um retorno ao atletismo depois de tudo que ele já me entregou – explica Gabriela, que foi campeã brasileira de atletismo sub-18 e sub-20 nos 1500 metros.
A largada da maratona masculina profissional está prevista para este sábado (10), às 3h (horário de Brasília). Já a maratona dos amadores será a partir das 16h. A maratona feminina profissional, por sua vez, será no domingo (11), às 3h. A energia gaúcha, porém, estará presente ao longo de todo o fim de semana parisiense. Seja através da bandeira de Mariana, das passadas de Roberta ou da torcida de Gabriela.