O nome dela é Mayra Aguiar da Silva, mas você também pode conhecê-la como uma das maiores atletas da história do judô brasileiro. Com a medalha conquistada em Tóquio, Mayra se tornou a primeira mulher a conquistar três pódios olímpicos em uma um esporte individual. E o mais significativo: de forma consecutiva.
Depois de dois bronzes, um em Londres, em 2012, e outro no Rio de Janeiro, em 2016, o novo terceiro lugar no Japão premia uma atleta jovem (29 anos), mas experiente em Olimpíadas — fez sua estreia em Pequim, com 17 anos.
A atleta da Sogipa viveu um ciclo complicado. Além da pandemia, ela sofreu uma ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo em setembro de 2020, o que poderia tê-la tirado do Japão. A lesão foi considerada pela própria atleta a mais difícil de toda a sua carreira — não só pelo aspecto físico, mas também pelo lado emocional. Talhada por lesões e pela resiliência, a judoca ficou afastada dos tatames por mais de oito meses, recuperou-se e, na madrugada desta quinta, reescreveu o seu nome no hall do esporte brasileiro.
Nascida em Porto Alegre e desde os 12 anos no clube gaúcho, Mayra é bicampeã mundial, a única judoca ao lado de João Derly que detém essa conquista.
— É uma fora de série. Começou muito cedo, ganhou muita coisa já e não fala em parar. Segundo ela, vai pelo menos até os Jogos de Paris (2024). Além disso, é muito forte fisicamente e tem um repertório grande de golpes. Ali, antes da luta, ela se transforma. Entra em órbita. Se tu abrires a mão a um palmo da nariz e perguntar quantos dedos tem, ela não responde. O olhar vai para outro lugar. É outra dimensão. Um absurdo de foco e concentração — conta Antônio Carlos de Oliveira Pereira, o Kiko, treinador de Mayra em Porto Alegre.
Mas nada disso caiu do céu para a porto-alegrense. Já em 2007, com 15 anos, fez sua primeira final pan-americana, ficando com a medalha de prata. Ali, sua trajetória em alto nível começou. Vieram as seis medalhas em Campeonatos Mundiais, as medalhas olímpicas, as vitórias, mas também as dificuldades. Ao todo, foram sete cirurgias pelo corpo na carreira.
Na última competição antes das Olimpíadas, o resultado de Mayra não foi nem perto o que se costuma ver. Sem competir desde fevereiro de 2020, a volta da judoca no Mundial de Budapeste acabou em duas lutas. Na estreia, venceu a belga Sophie Berger, mas perdeu na segunda fase para Marhinde Verkerk, da Holanda. Um mês e meio depois, com foco, ela sai de Tóquio com mais uma medalha, mostrando sua resiliência.
E a vida de Mayra é feita de coincidências também, além da repetição das conquistas. Ela também passou por uma lesão em 2014, quando conquistou seu primeiro título mundial. Oito meses antes de chegar ao lugar mais alto do pódio naquela ocasião, a judoca havia passado por duas cirurgias, uma no joelho e outra no ombro.
Dois anos antes, em Londres, em sua primeira medalha olímpica, entre a semifinal da categoria até 78 quilos e a disputa do bronze, ela sofreu uma lesão e teve de brigar pelo lugar no pódio com o braço "amarrado". A sequência lesão e grande resultado se repetiu no Japão. Um exemplo da força necessária para vencer em um nível tão alto.