Candidatos de ao menos seis Estados contestam os resultados do Exame Nacional de Residência Médica (Enare) 2025. O programa oferece vagas de especialização em hospitais de todo o Brasil para estudantes de Medicina a partir do sexto ano de graduação. Conforme o g1, há relatos de "notas inconsistentes" na etapa de análise curricular.
Popularmente conhecido como o "Enem das Residências Médicas", o Enare abre vagas em mais de 160 instituições de saúde do Brasil. As oportunidades são direcionadas a estudantes de Medicina a partir do sexto ano de graduação, que utilizam a nota no exame para concorrer a uma das vagas — nesta edição, são 8,7 mil oportunidades para 89 mil candidatos.
O resultado final do Enare é constituído a partir de duas etapas distintas: 90% dos pontos são oriundos da prova teórica e os 10% restantes, da análise curricular que avalia o desempenho em disciplinas durante a graduação, estágios e presença em congressos, por exemplo.
É na etapa de análise curricular que estudantes relataram problemas, alguns, inclusive, moveram ações judiciais contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsáveis por organizar o exame.
Estudantes apontam que não pontuaram na análise curricular, mesmo com a apresentação de documentos que comprovam as suas atividades. Outros admitiram que o resultado obtido foi acima do esperado, com "certificados que sequer apresentaram", cita o g1.
— A análise curricular feita pela banca organizadora afirma que o histórico escolar não foi anexado. Sendo assim, invalidaram a análise, ignoraram e zeraram meu histórico escolar. Várias pessoas sendo beneficiadas com pontuações por certificados inexistentes e a maioria com os currículos não avaliados ou avaliados erroneamente. O processo perdeu totalmente a credibilidade — disse Juliana Andrade, de São Luís, que não teve nota atribuída, mesmo com números de protocolos que comprovam o envio de documentação.
Recursos sem resultado
As notas do Enare foram divulgadas em 8 de janeiro, dia em que começaram os relatos sobre atribuições de pontuação erradas. Dois dias depois, a banca organizadora anunciou que os pontos da análise curricular seriam desconsiderados.
As novas notas foram publicadas em 14 de janeiro e estudantes que seguem com problemas entraram com recursos até dia 16. Os pedidos foram analisados e parte dos estudantes afirmam que seguiram com notas zeradas nos resultados divulgados em 21 de janeiro, sem nenhuma justificativa e com a apresentação de documentos acadêmicos e histórico escolar.
— Tive o segundo melhor desempenho do país na prova objetiva para a minha especialidade (87 pontos) e, mesmo assim, não vou ser aprovado — contou Vitor de Carvalho, estudante de Florianópolis, que relata ter enviado documentos semelhantes ao de um colega e apenas ele foi reprovado.
Caso de Justiça
Ao menos 16 estudantes movem uma ação judicial contra a FGV e a Ebserh devido aos problemas relatados. Vitor de Carvalho teve liminar favorável na 1ª Vara Federal de Blumenau para "determinar às autoridades impetradas que promovam a análise do histórico escolar".
— A FGV está dando respostas vagas aos alunos, como "indeferido ou parcialmente deferido, veja detalhamento na página de respostas". E o detalhamento é: "Documento não enviado" — relata a advogada Arsênia Breckenfiel, que representa 16 candidatos do Enare.
Contraponto
Segundo o g1, a Ebserh afirma que, "imediatamente após tomar conhecimento dos relatos de possíveis inconsistências na análise curricular, solicitou apuração da FGV".
A FGV reiterou o seu "compromisso com a rigidez e a isonomia do exame" e afirmou que os recursos apresentados pelos estudantes serão devidamente analisados.