
O Ensino Superior vem passando por muitas mudanças nos últimos anos. A expansão da oferta de cursos remotos, bem como a abundância de informações disponíveis na palma da mão dos alunos vêm moldando a educação. Mesmo assim, elas resistem: as bibliotecas universitárias seguem fundamentais na vida acadêmica.
Afinal, como as bibliotecas se mantêm relevantes, após essas transformações? Segundo especialistas ouvidas por Zero Hora, a explicação é que esses espaços nunca pararam no tempo. Pelo contrário – as bibliotecas universitárias estão se tornando mais modernas, se adaptando e se reinventado para atender às necessidades do público.
Muito além daquele modelo tradicional de biblioteca, com estrutura gigantesca repleta de livros físicos e periódicos, as instituições estão investindo amplamente em inovação tecnológica e serviços à comunidade acadêmica.
— Se o desafio do conhecimento dependesse só da circulação de informações, as bibliotecas não precisariam existir. Mas o conhecimento requer um aprofundamento da informação. A biblioteca proporciona toda uma infraestrutura, com informações estruturadas e publicações científicas, levando ao conhecimento, efetivamente — explica a diretora da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Letícia Strehl.
A bibliotecária trabalha na área há 30 anos e foi diretora da Biblioteca Central da UFRGS entre 2016 e 2024, período de muitas transformações. De acordo com ela, as bibliotecas surgiram em um contexto de escassez de informação, permitindo acesso às informações.
Atualmente, em um cenário de ampla circulação de informações, as bibliotecas universitárias seguem cumprindo seu papel, mas com diversos outros braços de atuação. A UFRGS, por exemplo, conta com o terceiro maior repositório institucional eletrônico do mundo, com 31 bibliotecas físicas distribuídas entre os campi. O acervo conta com 100 mil e-books e quase 700 mil livros físicos.
Em meio ao turbilhão de informações disponíveis na web, aqui podemos apresentar materiais de qualidade, com maior acurácia.
FERNANDA MOTTA FERREIRA
Bibliotecária da Universidade Feevale
Projeto de extensão, eventos, empréstimo de notebooks e equipamentos, salas de estudo, acesso a bases de dados, orientações e treinamentos, levantamento bibliográfico e serviço de referência estão entre as facilidades ofertadas pelas bibliotecas universitárias. Para a bibliotecária Fernanda Motta Ferreira, da Universidade Feevale, o principal papel da biblioteca é apoio pedagógico:
— É um suporte para professores, alunos e funcionários. Tentamos garantir facilidades para toda a comunidade acadêmica, e para o público, como um todo, por meio de serviços, incentivo à pesquisa e orientação. Em meio ao turbilhão de informações disponíveis na web, aqui podemos apresentar materiais de qualidade, com maior acurácia.
A Feevale conta com três bibliotecas, sendo que o acervo digital é composto por cerca de 280 mil títulos, e o acervo físico da biblioteca central, que tem três andares, dispõe de 80 mil livros. Conforme Fernanda, o próprio espaço físico serve como apoio para os alunos, até mesmo para estudos, tendo em vista que muitos não contam com infraestrutura adequada em casa.
Mudança de perfil
As bibliotecas também vêm enfrentando desafios com a mudança de perfil e comportamento das novas gerações. Cada vez mais, os jovens que ingressam em cursos de graduação dão preferência aos livros eletrônicos, principalmente pela comodidade.
Esse movimento se intensificou com a pandemia, conforme as especialistas entrevistadas. Segundo elas, a demanda por e-books aumentou massivamente. Com isso, nem sempre há pessoas circulando pelos corredores e estantes. Mesmo assim, ainda há muitos “ratos de biblioteca” que optam pelos tradicionais livros físicos.
— Eu adoro ler livros físicos, sinto que absorvo melhor (o conteúdo). Como aluna, desde o primeiro semestre sempre utilizei os espaços, eu gosto muito daqui. Aqui é muito confortável para estudar. O ambiente é incrível, tem ótima iluminação. Faz com que eu me sinta em casa — conta a estudante de Moda na Feevale Emilly Vitória de Moraes Rodrigues, 20 anos.
Aqui é muito confortável para estudar. O ambiente é incrível, tem ótima iluminação. Faz com que eu me sinta em casa.
EMILLY VITÓRIA DE MORAES RODRIGUES
Estudante de Moda
Segundo as bibliotecárias, o que mais movimenta os prédios são os laboratórios, poltronas e sofás, seja para estudos, para momentos de descanso ou leitura. Diversos alunos frequentam os espaços em busca de conforto e de locais silenciosos para se concentrar nos estudos. Na Feevale, as salas de estudo coletivas são disputadas, segundo Fernanda.
— Nos semestres anteriores eu conseguia vir com as minhas colegas, a gente tinha mais tempo disponível para vir nas salas de estudo em grupo. É um ambiente bem acolhedor. A gente tem acesso tanto aos livros físicos quanto à biblioteca online, que quebra muito o galho durante a graduação — conta a estudante Luisa Fossari, 25 anos, aluna do curso de Nutrição na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Fator humano faz a diferença
Desde o início dos anos 2000 as universidades investem em acervo digital. Na UFCSPA, por exemplo, o acervo da Biblioteca Paulo Lacerda de Azevedo conta com 19 mil títulos, além de 20,1 mil títulos no acervo físico e outros 49,9 mil exemplares. A universidade possui uma biblioteca central no campus em Porto Alegre.
Se for pensar, a gente dá um Google e tem muitas respostas ali. Só que são respostas que não passaram pelo crivo, pela seleção de uma pessoa.
ELISETE SALES DE SOUZA
Coordenadora da biblioteca da UFCSPA
Conforme a coordenadora da biblioteca da UFCSPA, Elisete Sales de Souza, o diferencial que fortalece as bibliotecas universitárias são as pessoas – mesmo com todas as facilidades trazidas pela tecnologia, os atendimentos e serviços fazem a diferença para quem está no ambiente acadêmico.
— O fator humano é muito determinante para que a biblioteca se mantenha importante. Se for pensar, a gente dá um Google e tem muitas respostas ali. Só que são respostas que não passaram pelo crivo, pela seleção de uma pessoa. Os alunos acabam vindo porque confiam muito mais em alguém lhe dizer que aquilo que está sendo entregue de informação, de recurso eletrônico para uma possível citação no seu trabalho, foi entregue por um profissional que pensou na entrega — argumenta.
Para seguir atraindo o público jovem e alcançar o máximo de pessoas possível, nos últimos anos, a biblioteca da Feevale começou a realizar também ações nas redes sociais, de modo a incentivar a leitura e engajar os alunos.
— Fazemos campanhas temáticas, ou em alusão a alguma data em específico, e notamos a circulação desses materiais. Demos dicas temáticas no período do Oscar, sugestões de livros que viraram filme. No Carnaval também, explicando sua relevância cultural e influências — diz Fernanda.
As bibliotecas também ofertam serviços para facilitar o uso de recursos e plataformas digitais, como o ChatGPT. A biblioteca da Feevale busca orientar e fornecer dicas aos alunos sobre isso, para que aproveitem as ferramentas da melhor forma possível.